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A tradicional noção de museu como símbolo da domesticação do tempo, da organização de lembranças de descobertas e de revelação de certezas sobre o passado mantém sua importância, mas é também fundamental para o despertar de uma consciência mais plena, o surgimento de espaços capazes de subverter a nossa relação com o tempo, com o infinito e com as escolhas do agora ainda não vivido.

Inaugurado há pouco mais de um ano, o Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, tem esse caráter transformador das urgências do presente em pensamentos sobre as diversas possibilidades de seguirmos em direção ao que pretendemos ser enquanto humanidade. Visitei-o na sexta-feira passada (3/3) e pude constatar o potencial da sua contribuição para um mundo que precisa sair do pesadelo do imediatismo.

A jornada rumo ao desenvolvimento da percepção de que existe uma pluralidade de caminhos na construção do século XXI começa na própria renovação urbanística da Praça Mauá e da zona portuária das emblemáticas águas da Baía da Guanabara, onde estão localizados o Museu do Amanhã, o Museu de Arte do Rio (MAR), o Mosteiro de São Bento e o edifício do jornal A Noite, sede histórica da Rádio Nacional.

O espaço de convivência da parte externa do museu, com seus jardins, espelho d’água, ciclovia, área de lazer e paisagem com a Ponte Rio-Niterói ao fundo, sugere uma intenção integradora do diverso. A estação do VLT Carioca ao lado convida a passeios pelo circuito do centro histórico da cidade, tanto no sentido do Aquário e da Cidade do Samba quanto em direção à Candelária e à Cinelândia.

O Museu do Amanhã é, em si, uma grande escultura ao ar livre, movida a energias limpas e renováveis. Projetado pelo arquiteto espanhol Santiago Calatrava, ele é a primeira obra a ser visitada. Com curvas que não se repetem, sua forma suscita várias interpretações. Para mim, duas imagens estão representadas naquela arquitetura: a de um besouro, com suas asas rígidas levantadas, a fim de que as asas delicadas batam em voo; e a de um exoesqueleto fóssil, protetor futurista da imaginação de viventes digitais.

No entanto, a atração maior desse museu são os seus recursos tecnológicos, cenográficos e audiovisuais associados a conceitos ecológicos, à ciência e às artes. Unindo educação e entretenimento em experiências imersivas, o equipamento está estruturado em cinco campos sensoriais-cognitivos – Cosmos, Terra, Antropoceno, Amanhãs e Nós – por meio dos quais provoca o revolver de clássicas questões da humanidade: De onde viemos? Quem somos? Onde estamos? Para onde vamos? Como queremos ir?

No portal Cosmos, lembrei-me do antigo Cinema 180 Graus, ao ter a sensação de estar dentro de uma redoma que busca sintetizar o universo como origem e como destino, tendo no sopro e no toque de uma criança o despertar para o que está próximo. As dimensões da existência são tratadas no ambiente Terra; o impacto do humano sobre o planeta, nas vivências do Antropoceno; as novas fronteiras exploratórias, em Amanhãs; e na trama de madeira do espaço Nós, o estar no mundo como transmissores de saberes e conhecimentos. Tudo porque sempre está amanhecendo em algum lugar, e em algum momento esse lugar é aqui e agora.