Desde 2011 que o Ceará tem o dia 25 de março oficializado como Data Magna estadual em razão do pioneirismo dos nossos antepassados na abolição da escravidão em 1884, quatro anos antes do restante do Brasil. A conquista desse feriado merece evoluir para um dia de comemorações, com atividades artísticas e literárias, debates, feiras e tudo o que pode movimentar essa data em favor da negritude e do antirracismo.
O 25 de março cearense precisa estar integrado ao 20 de novembro brasileiro, Dia da Consciência Negra, marco da morte de Zumbi dos Palmares, que entrou no calendário do país também em 2011 e, embora já fosse feriado em alguns estados e municípios, tornou-se feriado nacional em 2023, amparado por lei federal.
No Dia da Consciência Negra são realizadas palestras, rodas de conversas, shows, exposições, entregas de troféus e outros acontecimentos voltados para o tema, inclusive com vários eventos no Ceará, a exemplo do Festival Afrocearensidades, promovido pelo governo estadual. Da mesma forma, no Dia da Abolição na Terra da Luz, cabe perfeitamente uma programação intensa e múltipla que contribua para o fim dos preconceitos e discriminações de cor.
O Ceará tem esse título maravilhoso de Terra da Luz, cunhado por José do Patrocínio (1853 – 1905), o desassossegado abolicionista fluminense que esteve no território cearense em apoio ao evento precursor da libertação brasileira. Uma grandeza simbólica como esta não pode seguir tão apagada em suas possibilidades de usos nos campos da cultura, do turismo e das transformações sociais e políticas.
Pensando que essa expressão deve ser cantada, como se canta em dia de alegria, convidei o meu velho amigo e parceiro Paulo Lepetit para fazermos uma música que pudesse ser a semente de uma festa que há de vir. Ele não contou duas vezes e compusemos em uma tirada só o reggae “Ceará Negro”, tema do livro homônimo que lançarei no feriado de 25 de março de 2025, na Unilab (Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira), em Redenção, a 55 km de Fortaleza.
A letra ficou assim: “O dia chegou / E eu vim feliz te encontrar / É o dia da festa de luta / Do antirracismo no Ceará // Festa da negritude / Atitude da cor / Do corpo de som / Negro de amor // E se chover / Deixa a chuva molhar / E se ventar / Deixa o cabelo assanhar // É festa / É festa / É festa / Na Terra da Luz!”. O Paulinho sugeriu o nome da cantora Virgínia Rosa, e para mim foi uma grande satisfação ter neles dois esse pedaço da banda Isca, de Itamar Assumpção (1949 – 2003), no projeto. O Itamar está no top 10 dos artistas que construíram as minhas preferências musicais.
A gravação ficou primorosa, com a voz paulistana de ascendência mineira de Virginia Rosa, os violões e guitarras de energia baiana de Webster Santos, a bateria, as percussões e percussão eletrônica no pulsar de sampa de Vitor Cabral e, além da produção musical e arranjo, o baixo único e magnético de Paulo Lepetit. Com isso, essa música está posta para cumprir o seu destino de integrar o livro “Ceará Negro e outros temas de África” (Omni) e ser parte da festa, da festa, da festa… na Terra da Luz, em favor da consciência negra afrobrasileira.
O lançamento do livro tem a parceria da UNILAB, o prefácio do reitor Roque Albuquerque e comentários de 50 estudantes de Angola, Brasil, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tome e Príncipe, participantes dessa experiência de integração que passa pelo Ceará. É festa, é festa, é festa… na Terra da Luz!
Fonte:
Jornal O POVO