Aprendi apenas três palavras em Suaíli: Jambo (Olá), Karibu (Bem-vindo) e Asante (Obrigado), mas foi o suficiente para demonstrar às pessoas da capital queniana com as quais interagi o quanto me senti contente de estar com elas nessa cidade tão especial. Nairóbi tem uma população de quase cinco milhões de habitantes e é a capital do Quênia, país banhado pelo Oceano Índico e habitado por 53 milhões de pessoas de 44 etnias distintas.

Todo mundo em Nairóbi fala Suaíli, a língua comum da multicultura costeira da África Oriental formada basicamente por grupos originários, árabes, persas e indianos. Por conta da colonização britânica, o inglês também é língua oficial no país. A independência do Quênia foi conquistada há seis décadas (1963) e os quenianos ainda enfrentam todas as dificuldades econômicas, políticas e psicossociais inerentes aos lugares que passam por dominações severas.

Ainda que pareça distante o tempo em que se verá Nairóbi com suas questões urbanas satisfatoriamente resolvidas, durante a visita que fiz à cidade nesse começo de junho senti alguns sinais dos seus movimentos de transformação. Para começar, as essências da natureza africana, do berço da humanidade, dos ciclos da vida, da cultura e da história regionais estão devidamente organizadas no Museu Nacional de Nairóbi para quem quiser ter acesso.

A crença no aprimoramento das relações sociais está presente em ações de cidadania como a Kobe Tough, que fortalece a existência de mulheres viúvas, mães solteiras e órfãs por meio da potencialização de suas habilidades artesãs. Com isso, asseguram a elas uma renda justa e a independência nas relações amorosas, haja vista que muitas famílias matriarcais casam as filhas simplesmente para receber o dote em bovinos e, assim, seguir sobrevivendo.

Mãe e Criança. Escultura de Frances Nnaggenda no Museu Nacional de Nairóbi. Foto: Lucas Paiva.

No Quênia há um importante grupo étnico, o Maasai, que traz em sua bagagem o posicionamento histórico de séculos atrás ter rejeitado participar do tráfico de seres humanos, por não aceitar o comércio de escravizados que a tanta gente enriqueceu na própria África. A bandeira do país tem como símbolo um escudo e duas lanças desse povo nômade, formado por pastores de corpos longilíneos, mulheres que constroem as próprias casas e comunidades que usam roupas e adereços coloridos e argolas de metal nos lóbulos das orelhas.

Em Nairóbi, o Mercado Maasai é um colorido e diversificado acontecimento de artesanato itinerante, montado diariamente em diferentes lugares da capital queniana. Estive lá em um domingo (02/06) e a feira ocupava toda a área do estacionamento da Suprema Corte do Quênia, localizado no centro da cidade. Tinha esculturas em madeira, utensílios, roupas, joias, miçangas, cestos e tudo o que se pode imaginar naquele vibrante comércio ao ar livre.

Chamou também a minha atenção o trato cuidadoso que é dado ao lugar onde morou a escritora dinamarquesa Karen Blixen (1885 – 1962) que, na primeira metade do século passado, foi proprietária de uma fazenda de café nos arredores de Nairóbi e, ao deixar o país, publicou, em 1937, o livro Den afrikanske Farm (A fazenda africana), obra que serviu de base para o filme Out of Africa (1985), do diretor estadunidense Sydney Pollack (1934 – 2008).

Tive a impressão de que em Nairóbi está havendo uma incipiente movimentação de consciência ambiental voltada para a estruturação de iniciativas climáticas, com vistas às adaptações necessárias à superação dos seus problemas de inundações e secas devastadoras, pela combinação do verde abundante e da luz solar sob o conceito de Cidade Verde ao Sol. A capital do Quênia é visivelmente desigual, com mansões em sítios arborizados e habitações precárias, mas é um lugar que dispõe de 54 parques e reservas, e esse fato em si já traz alguma esperança.

Fonte:
Jornal O POVO