A importância cada vez maior das mídias na formação das pessoas reforça a necessidade de exercício do entendimento crítico da informação e o sentido de tratar os meios de comunicação de massa como parte indissociável dos sistemas culturais e educacionais. A constatação de que as telas passaram a “educar” mais do que as famílias, as escolas e as igrejas implica em desdobramento das atenções voltadas para o envolvimento mais amplo dos responsáveis pela emissão de conteúdo, na busca pela preparação de uma cidadania responsável.
Acredito nas educadoras e nos educadores que estão se mexendo como podem entre a especialização e a interdisciplinaridade, entre o curtir e o participar, o físico e o virtual, a cultura popular e a cultura de massa. Pessoas permanentemente empenhadas em encontrar o lugar da cidadania em um país fragilizado social e politicamente diante dos novos sistemas de comunicação e seus horizontes em teias e redes de relacionamentos, das novas formas de percepção, compreensão e de troca de mensagens, enfim, das procuras por ressignificações na modernidade de exceção.
Pensar nesse desafio é considerar as estruturas de relacionamentos digitais dentro do conjunto de sistemas institucionais e de vivências para o encaminhamento dos interesses sociais perenes, e não somente aqueles de ocasião, em franca influência do imediatismo praticado pela nova economia de cunho imaterial, que domina o aparato de venda de conteúdo. Esse complexo de núcleos de sociabilidade tem imbricações de elevado poder, perpassando os ambientes familiares, escolares, espirituais, governamentais, empresariais, midiáticos e em grupos de afinidades, que se estendem desde interesses esportivos e artísticos até os de negócios, drogas, violência e de entretenimento.
É quase impossível uma conduta humana decente e sensível em uma circunstância de predomínio da transferência dos ideais de bem-estar e de felicidade para a insaciável aquisição de objetos e de visibilidade forçada, como insistem as mensagens mais atraentes deformadoras da cibercultura. Na geografia de interconexões virtuais, por onde a mente pode transitar com desenvoltura, e dos lugares físicos, onde o corpo pode aferir que tem cabeça, tronco e membros, educar passou a ser um misto de embaraço e ato de coragem.
O compromisso educacional e cultural dos sistemas de comunicação começa com o fortalecimento da liberdade de expressão, da circulação de interpretações desafetadas, de análises com posicionamentos explícitos e da veiculação de notícias livres. Neste aspecto, o papel do jornalismo, como provedor de representações fiáveis, atrela-se mais e mais à clareza da voz que se posiciona, que diz por quem torce e que assume a parcialidade do ponto de vista, simplesmente porque se inspira em valores e interesses defensáveis.
As fronteiras das mídias de massa no desenvolvimento cultural e educacional apresentam variados conflitos. O mais confuso de todos é a falta de distinção entre o que é de interesse social e o que é apenas criação de valor político e mercadológico. Este é um ponto de atenção chave para que o avanço da ampliação da esfera pública nos mundos sociais físico e virtual não siga trazendo consigo a possibilidade de promoção apenas do consumo e de seguidores delirantes, mas também da cidadania.