O SISTEMA TOINZINHO
Artigo publicado na RIVISTA do MINO nº172 (Editora Riso), p. 32-33)
Edição de julho de 2016 – Fortaleza, Ceará, Brasil
FAC-SÍMILE
A palavra Sistema era a cara do meu pai Toinzinho (1921 – 2015). Cresci ouvindo-o falar dessa idealização dele por um lugar integral, que conseguiu concretizar na Fazenda Manchete, onde morava com a minha mãe Socorro (1937). Ali eles desenvolveram uma cumplicidade com a natureza, tendo no suficiente a filosofia do bem viver.
Com o passar das décadas fui observando que ele montava no entorno de casa um conjunto de esculturas com características ora funcionais e ora diletantes. Eram formas plásticas que apareciam e desapareciam em enigmáticas exposições ao ar livre. Comecei a desconfiar que tais peças poderiam me ajudar a entender a dinâmica do seu pensamento.
Resolvi fotografar algumas das formas geométricas concêntricas que ele aprontava com materiais presentes nos seus afazeres de criador de ovinos e caprinos no sertão cearense de Independência. A cada imagem que registrava eu me sentia embalado por um mandala que ia além dos objetos dos quais era feito, para alcançar um estado de sentir profundo das coisas mais simples.
Tão belas e tão genuínas, as esculturas circulares do meu pai passaram então a definir para mim o seu jeito de dar movimento ao viver. Cada obra é um ponto de subjetivação tomado emprestado do seu próprio cotidiano. São representações que não pertencem a um tempo nem a um espaço determinados, mas a outros regimes de interpretação do sensível.
Quem se dispuser a apreciá-las terá certamente a oportunidade de vivenciar o deslocamento dos elementos que as constituem para dentro de si. Boa inspiração.