As soluções para os fracassos nunca são agradáveis. Entretanto, mais desagradáveis ainda são os efeitos da protelação do que é necessário fazer quando precisamos mudar. Com exceção das adeptas e dos adeptos do antagonismo odiento, cresce o número de pessoas querendo o impeachment do Presidente da República, tanto por razões políticas de oposição quanto por decepção com sua conduta vergonhosa em sucessivos atos insanos pessoais e de desgoverno.
Na política, como na vida, lidar com frustrações pode ser um caminho para sair fortalecido de uma situação calamitosa como a que enfrentamos, criada por quem deu motivo e por quem apostou no nome para Presidente que saiu eleito das urnas. Além da contumaz falta de decoro e da exaltação da mentira como valor social, o chefe do Poder Executivo tem cometido repetidas infrações no tratamento da coisa pública que colocam em risco a segurança interna e as relações internacionais do país.
Ficar sem fazer nada diante dessas circunstâncias torna a cidadania depressiva. Destituir um presidente como esse serve pelo menos para retomar alguma expectativa de reversão do estado de infortúnio pelo qual estamos passando. Isso tem um preço para a democracia, embora o recurso do impedimento do governante seja legítimo. O afastamento de um cargo recebido por meio do voto sempre causa danos à estabilidade democrática.
No cenário de crise sanitária (coronavírus), econômica e moral por que passa o país, as condições estão postas para eventuais estabelecimentos de regimes de exceção. Se estiver imbuído dessa intenção (tomara que não), ao assumir, o vice-presidente não precisará de muito esforço para receber o apoio da população, pois o discurso para isso está sustentado nos próprios fatos e eventos de uma situação catastrófica criada por todas e todos os que forçaram a população ao voto desesperado.
O que ajuda a dar clareza aos processos políticos são as atitudes. Neste momento em que, com os pés na areia movediça da desesperança, deparamos com a necessidade de dar um salto no escuro, temos que desaprender os gestos autoritários com os quais procuramos combater o autoritarismo, e deixar para trás a vontade de cometer atos fascistas em nome do combate ao fascismo. A dureza do cenário não permite mais vaciladas como essas. Precisamos correr o risco de voltar a confiar uns nos outros.
A gravidade do problema brasileiro já extrapolou os limites da racionalidade. Estamos na linha da sobrevivência e, como todo animal acuado, entregamos o destino aos impulsos instintivos. E agimos segundo a dinâmica dos algoritmos, que gerou uma mania de negação do que não é afim, bolhas digitais individualizantes, em um paradoxal tribalismo cibernético. Mesmo assim, a hora é de atrair as pessoas que contribuíram para a proliferação do vírus da mediocridade instalado no pulmão da República para que prestem socorro a si mesmas e à coletividade.
Um processo de impeachment é lento e requer atitudes cidadãs democraticamente dolorosas e politicamente firmes. O Congresso Nacional precisa ser pressionado a depor e a tornar inelegível esse representante maior da indecência política nacional. O impeachment é ruim, mas nada parece tão ruim quanto manter um Presidente com traços de psicopatia determinando o avanço do vírus da insensatez no ambiente social e político brasileiro.