O advento da pandemia acabou por reduzir a visibilidade de uma louvável ação da Câmara Municipal de Tauá realizada em 2019, com a qual o parlamento daquele município dos Inhamuns teceu a sua história a partir das histórias dos seus distritos. O projeto “Câmara nos Distritos” promoveu sessões solenes em cada localidade, valorizando as contribuições das etnias originárias, do comércio dos tropeiros, da bravura dos vaqueiros, dos mestres da cultura popular, da passagem dos ciganos, dos fazendeiros que ali se instalaram, dos políticos oriundos de cada lugar e das lideranças dos movimentos sociais.
O resultado dessa movimentação feita onde a história tem suas raízes está resumido no livro “Anotações históricas dos distritos de Tauá” (Caminhar, 2020), de João Álcimo Viana Lima, professor de História do campus da UECE em Tauá. O trabalho mostra que, mais do que um entroncamento da Estrada das Boiadas, aquele município possui um apreciável patrimônio natural e de geografia humana que, antes de tudo, deve estar no orgulho tauaense. O município tem várias reservas ambientais, tombamentos de referências arquitetônicas e preservação de sítios arqueológicos.
A simbologia do touro brabo na bandeira do distrito de Marruás, o significado cultural e econômico do rio das Favelas e do rio Carrapateiras para o território e a curiosa história dos Carcarás no distrito de Marrecas, conhecidos por darem ocupação remunerada a escravizados fugitivos, são alguns dos aspectos dos acoplamentos dos processos sociais que fortalecem a imagem do lugar. É inspirador tudo isso. Todo município deveria procurar se encontrar na integração das suas partes.
A experiência de Tauá poderia muito bem ser estendida a toda a região dos Inhamuns, em uma articulação entre os municípios do sertão oeste cearense. Isso fortaleceria a dinâmica das instituições culturais, educacionais e desportivas, das feiras, do turismo, da oportunidade da energia solar e outros encadeamentos cotidianos, quebrando isolamentos e criando um campo de força por congruências de identificações. Falo de metassistemas constituídos por convergências de interesses, agregações vocacionais e corresponsabilidades em perspectivas sustentáveis.
Ao fazer a pesquisa para o meu livro “Toque de Avançar. Destino: Independência” (Armazém da Cultura, 2021), encontrei a presença das gentes dos Inhamuns nas batalhas definidoras da independência do Brasil em 1823. E isso está claro no livro de João Álcimo quando ele menciona a participação de Tauá na luta “contra as forças favoráveis a Portugal e em defesa da independência recém proclamada” (p.74). Esta é uma das tantas ligas que poderiam ser potencializadas em um eventual compartilhamento regional.
A operação integrada dos mecanismos culturais, educacionais, políticos e econômicos da região não precisaria ter rigidez em suas divisas. Se a região já tem, por exemplo, unidades do IFCE em Tauá e Crateús, nada impede que o campus de Boa Viagem, que é um município do Sertão Central, componha esse tripé de impulsão ao desenvolvimento integrado. Até porque há convergências inter-regionais, como a divisão das águas que partem da Serra da Joaninha para o rio Parnaíba por meio do rio Poti e das águas que vertem da Serra da Pipoca para o rio Jaguaribe pelo leito do rio Carrapateiras. E todas correm dos Inhamuns para o encontro com o Atlântico no litoral do Piauí e do Ceará.