O compositor e cantor Tom Drummond, 30, cearense radicado na capital paraibana, faz uma música de desassossegados versos poéticos e ardentes melodias, meio MPB, meio pop, boa de ser apreciada por quem está aberto a escutar um tanto de coisas que importam para a juventude, com modos simples e sentimentos densos.
Ele dedilha e arpeja um violão divertido e canta dramas, desejos e paixões das relações em letras espertas. Sua provocação é explícita, irônica e escancarada ao politicamente incorreto: “Ai de mim / Que vivo sem ter ninguém / Por que a demora se agora / Um homem me cai tão bem (…) É tudo que quero e sei / Mas quando o cara se faz relevante / Eu descubro que ele é gay” (Ai de mim).
Enquanto o bordão grudento de Ai de Mim fala de desapontamento, palavras amorosas, juvenis e inspiradas manifestam sensações instáveis de falta: “Todo vício tem seu mel / Toda flor tem seu jardim / E o que é que eu devo fazer / Sem ter você perto de mim” (Enfeite). Ele imprime clareza aos sentimentos e deixa o impulso criativo tomar conta das significações.
A produção musical de Tom é feita de composições sinceras, baixadas do coração, com lugar próprio no pingente das emoções, onde brilha a luz das palavras e as cores das melodias. “Tem quem conte as noites / quem não dormiu (…) Tem quem conte impasses / que já venceu (…) tem quem conte quantos passos deu / E a distância para poder voltar” (Contagem).
Tom Drummond é bom compositor, bom músico e bom intérprete. Tem presença de palco, charme de artista independente e é o tipo que deixa a galera assanhada. Bacharel em violoncelo pela Universidade Federal da Paraíba, toca piano e domina o violão com intimidade, explorando bem a potência sonora do instrumento.
Em levadas de cordas e corpo, acordes de qualidade, propriedade rítmica e mensagens irreverentes, Tom já espalhou seu som em meia dúzia de discos em pouco mais de uma década, processo iniciado com Relance (2005) e seguido por Disfarce (2006), Impressões (2008), Enfeite (2011), Acaso (2012) e Andarilho (2015).
A parceria com a irmã Bia Drummond, cantora e violinista da Orquestra Sinfônica da Paraíba, vem desde criança. Lembro de ouvir os dois bem pequenos cantando “Briga de Irmão”, letra e música da mãe, a musicista Elvira Drummond. E os dois cresceram. Tom e Bia têm suas carreiras próprias, mas estão sempre presentes em discos e vídeos uns dos outros, em uma vibe que se estende da arte formal à crítica bem humorada: “Confesso que quase acredito em todos os teus conselhos / Me diverte te escutar” (Entrelinhas).
A cumplicidade com a irmã se dá também em composições de autoria dela: “A saudosa soube inesperadamente / Que também fui selecionada pra solar / Sobra uma alegria tão solúvel insolente / E um solilóquio, em soledade, a perguntar / De que se vale dois solistas solitários / Um dueto solidário não seria são” (Soluçando de saudade). Lendo assim, pode soar estranho, mas ouvindo e entrando no enredo, essa é mais uma das criações cativantes de Bia.
Dá uma alegria acompanhar a trajetória de artistas tão talentosos. “Vou fazendo e desfazendo tantos planos / Que me levam a enganos / Ou me levam a você” (Sarah), canta na segunda faixa do disco Andarilho, com a participação especial de Moska. Tom Drummond é um artista maduro e dedicado, que chama a atenção pela destreza com que atua no cenário da nossa boa música.