Uma agradável relação com o pensamento
Artigo publicado na RIVISTA do MINO nº 141 (Editora Riso), p. 20
Edição de novembro de 2013 – Fortaleza, Ceará, Brasil

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Os padrões exagerados de consumo e voyeurismo, estabelecidos pelas mídias de massa na sociedade hipermoderna, associam a existência ao hábito de estarmos intensamente conectados e à aceitação passiva de sermos mapeados e codificados. Essa situação de estímulo ao falso self virou um incômodo mal estar social.

A juventude, categorizada e permanentemente empurrada ao afastamento do convívio com quem não responde por velhas referências de atitudes transgressoras disfarçadas de novos conceitos de liberdade, acaba tendo o seu potencial transformador comprometido pela negação da oportunidade de reflexão autônoma.

Como pai de estudantes do Colégio Sapiens que, em parceria com o Espaço Vida e com o Colégio Santa Cecília, realiza há uma década os encontros de “Filosofia da Juventude”, fico encantado com a agitação que toma conta dos meus filhos na semana desse fórum, quando, de forma especial, eles exercitam uma relação curiosa e afetiva com o pensamento.

A filosofia possibilita o vínculo com o saber pela construção de lugares a partir dos quais os estudantes se posicionam no aprendizado das analogias, do raciocínio comparado, da problematização do que parece óbvio, enfim, na observação não conclusiva do mundo, tendo como ponto de interrogação a interioridade de cada um.

Ao apresentar “a Juventude, as Ideologias e a Liberdade”, como vórtices temáticos, o encontro deste ano, ocorrido de 23 a 25 de outubro, coloca na pauta da relação dos estudantes com o pensamento situações cotidianas que transitam por zonas cegas de entendimento, tais como os supostos nexos entre violência e mercado de segurança, cibercultura e fundamentalismo tecnológico.

A divertida experiência do contraditório abre janelas para olhares desencaixados da simbologia discursiva dominante e suas dubiedades. Noções como as de inevitabilidade de gosto, de comportamento seguidor, de ativismo clicado e de sociedade paparazzi entram em choque com o senso de direito ao consentimento, à privacidade e ao gostar autoral. O pensamento é uma bola que tanto pode rolar no sentido de existir como abrir o placar do que se deve fazer com isso.

O que mais parece atrair os estudantes nesse fórum de “Filosofia da Juventude” é que eles podem entrar no jogo dos grandes pensadores, como se estivessem na quadra de esportes do recreio da filosofia. Ora a bola está do lado da consciência que eles têm das coisas, ora passa para o lado da consciência de que existem coisas que eles não sabem e, na partida toda, valem lances de não saberem que sabem e até de não saberem que não sabem.