Flávio Paiva lança autobiografia colaborativa na qual aproxima fragmentos de sua existência com relatos e questionamentos de pessoas que compõem sua trajetória
IVIG FREITAS/ ESPECIAL PARA O POVO
“Código Aberto” nasce da busca de indagações, não de respostas. Isso porque, perto de completar a sexta década de vida, o escritor Flávio Paiva recebeu sessenta perguntas como um presente – ou uma provocação – que rapidamente se entranhou aos muitos relatos e reflexões de sua experiência vivida, que se multiplica em outras tantas pessoas que acompanham sua trajetória. Devolveu as perguntas que recebeu em forma de um livro – inquietante e inovador – que trata sobre diferentes aspectos que formam o seu código existencial. O livro será lançado em São Paulo neste sábado, 15, e está à venda na loja virtual da Cortez Editora.
Sessenta perguntas de diferentes pessoas dão o tom de “Código Aberto”. “O critério para a seleção dos nomes foi muito simples e direto. Considero amiga e amigo alguém que, ao longo das minhas seis décadas, passou a me engrandecer pelo fato de estabelecer algum tipo de vínculo franco e amoroso comigo”. Flávio também procurou “cabeças diferentes, de lugares diferentes e com experiências diferentes”. “Foi um exercício que adorei fazer. Não poderia ter sido melhor. Estou feliz com a contribuição de cada um e com o resultado obtido a partir dessas perguntas geradoras”,afirma.
Entre os nomes que fizeram as perguntas geradoras do livro, estão Adriana Calcanhotto, Nirez, Falcão, Gilmar de Carvalho e Chico César. “Dispensei os filtros do estatuto do certo e do errado para poder chegar a mim mesmo e, assim, me expressar livremente. Foi, portanto, movido pela dedicação e afeição dos artesãos e dos amadores que abri o meu código existencial”, revela. O livro é lançado no ano em que o autor completa 60 anos, 25 livros publicados e muitas músicas gravadas.
Pelo calendário, foram seis meses de mergulho nos aspectos que dão sentido à vida de Flávio Paiva, tendo como guia as 60 perguntas. Revisitou livros inspiradores e leu outros tantos que ajudaram a iluminar o percurso das reflexões. Nessa aventura do pensamento, passeou por situações concretas e abstrações, deparou-se com metáforas instigantes e atuais. “Mas o tempo nesse tipo de trabalho não cabe nas medidas do calendário; eu diria que nem mesmo na duração dos anos que já vivi, pois é um tempo de eternidade”, pontua.
Para ilustrar a capa de sua autobiografia colaborativa, Flávio escolheu uma obra das tantas que meu pai Toinzinho fez despretensiosamente no entorno da sua casa no interior. “Eram esculturas pré-artesanais e pré-amadoras, que tinham forma circular e sugeriam uma expressão contínua da vida”. Na capa do Código Aberto, a obra do seu pai representa o mecanismo da atemporalidade e da ubiquidade, a diluição do tempo e do espaço na dimensão da espiritualidade. “Tem um quê de encantamento essa peça, é um talismã”, resume Flávio.
A combinação entre música e literatura marcam todo o processo criativo de Flávio Paiva. “Normalmente, quando escrevo, escuto mentalmente uma música entoada pelas palavras e seu coro de significados. Tendo a criar ilustrações musicais em minha produção literária”, explica. No caso do Código Aberto, logo que começou a escrever os primeiros textos, ouviu uma melodia composta pelo seu filho Artur e fez uma letra para ela. “Mostrei ao amigo Paulo Lepetit, que é músico e produtor musical, e ele teve a ideia genial de fazermos uma gravação em seis movimentos, cada movimento representando uma década do tempo que já vivi”, conta.
No ano em que completa sessenta anos de idade, Flávio Paiva chega ao patamar de 25 livros publicados e mais de uma centena de músicas gravadas como ilustrações de sua obra literária. Seguindo o mesmo propósito colaborativo das perguntas que compõem o livro, a canção foi gravada em seis cidades diferentes: Boa Vista, Fortaleza, João Pessoa, Salvador, São Paulo e Paris. “Escrever ouvindo a ilustração musical que nasceu do próprio trabalho aflora sentimentos e emoções, revolve a memória, estende a realidade e facilita a reconstrução da experiência”, analisa o escritor.