Casa de Criança

Flávio Paiva

Casa de Criança

O sol nasce
E com ele nasço
Todo dia

Brinco com você
E dou abraços de
Bom dia

Invento o mundo
Nas páginas do meu caderno
Onde as palavras cantam
Casa de Criança!

Tudo vive mais
Quando você sorri
E me escuta

Tudo brilha mais
Quando você olha
E me clareia

Invento o mundo
Nas páginas do meu caderno
Onde as palavras cantam
Casa de Criança!

Fim de tarde
A luz do sol muda
De cor

Pinto a alegria
Na magia do
Amor

 

Uma canção para a infância
O Povo (V&A) – coluna Flávio Paiva para a 4ª feira, dia 01 de Fevereiro de 2017

A primeira infância é o momento em que a criança desenvolve as habilidades básicas de compreensão do mundo. Esta condição faz com que a primeira escola dos nossos filhos tenha uma importância fundamental para eles, em todo o processo educativo e na experiência do viver. É difícil retribuir o carinho e a dedicação das educadoras infantis que, com sensibilidade e atenção especial, fazem a troca de cuidados com a família nessa fase de iniciação de movimentos próprios e de abertura para as relações sociais.

Tive a oportunidade de concretizar a expressão do meu agradecimento à Casa de Criança, onde os meus filhos Lucas e Artur, que já são adolescentes, começaram pequenininhos a aventura da escolaridade. Compus, como presente pela passagem dos 25 anos dessa escola, comemorados amanhã (2/2), uma canção para a infância, inspirada nas tantas lembranças boas que dali trouxemos para as nossas vidas.

Com o propósito de homenagear a educação fortalecedora de vínculos, procurei fazer uma melodia cheia de ternura, com andamento propício ao cantar, ao balançar de corpos e ao bater de palmas com suavidade e firmeza. Fui motivado pelo desafio de compor algo cativante, no qual as conexões das palavras e dos sons pudessem ir ao encontro do modo como meninas e meninos ordenam o próprio mundo.

O pensamento da criança é concreto, no sentido de que ela expressa o que vê, e abstrato, quando ela pensa por analogia. Em ambos tende a ser afetivo, o que me instigou a optar por imagens do cotidiano escolar, como forma de despertar o interesse delas por um lugar e por alguém. “O sol nasce / E com ele nasço / Todo dia / Brinco com você / E dou abraços de / Bom dia”. No fluxo do tempo (todo dia vem de antes e segue depois), o sol, como fonte de renovação diária do mundo, chega para a criança por meio do brincar e da brincadeira.

O respeito ao potencial de inteligência da criança para a criação de metáforas – capacidade tão importante para o desenvolvimento da linguagem – me levou a estruturar um refrão voltado à exploração e construção de imagens a partir de palavras: “Invento o mundo / Nas páginas do meu caderno / Onde as palavras cantam / Casa de Criança”. A movimentação dos fonemas, o animismo das letras e o mistério dos códigos que se mexem têm um quê do diálogo entre o que é familiar e o que é captado do exterior na atividade escolar, ao sabor da sua imaginação.

Utilizei o recurso do conceito binário (eu e você) para facilitar a fabulação a respeito da ação educativa com base em conceitos afetivos: “Tudo vive mais / Quando você sorri / E me escuta / Tudo brilha mais / Quando você olha / E me clareia”. A luz do sol e a luz do olhar se projetam nessa estrofe como elementos que a criança já conhece para que se reconheça e possa deixar que seus pensamentos se exponham com naturalidade.

A fim de contribuir para a ampliação do senso estético da meninada, o ciclo desse andante ensolarado se completa com o desenho imaginário de um abraço dos ambientes natural (sol) e social (escola): “Fim de tarde / A luz do sol muda / De cor / Pinto a alegria / Na magia do / Amor”. Interpretada com leveza e ludicidade pela cantora Bárbara Sena e um coro infantil, esta canção foi toda feita com cenas de uma memória feliz.

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