UM LIVRO-CD PARA FORTALEZA

No réveillon de 2016, Flávio Paiva começou a escrever BULBRAX na tranquilidade da praia de Galinhos(RN).

A inspiração veio quando o autor se deu conta de que em 2016 estaria fazendo 40 anos da data de 1976 quando passou a morar em Fortaleza, cidade que, também em 2016, completaria 190 anos (13/04/2016).

Iniciado o texto, deu vontade de mais uma vez recorrer à música como parte da narrativa… UM PROCESSO DE CONSTRUÇÃO QUE LEVOU TODO O ANO DE 2016… e que você pode acompanhar aqui…

VÍNCULOS NA VIDA URBANA

O livro-CD BULBRAX, de Flávio Paiva, apresenta um olhar especial sobre a cultura de Fortaleza, seus vínculos e nuanças como realidade cosmopolita. Com repertório literário e musical voltado às peculiaridades que distinguem a capital cearense como lugar surpreendente e único, a obra conta e canta da variedade, pluralidade e heterogeneidade das suas vozes.

BULBRAX transforma a cidade em laboratório de escrita e de som, não como palavras de fundo ou trilha sonora, mas como experiência em si, cheia de revelações inusitadas e transes sonoros, destacando a força dos sentimentos, dos afetos, da descoberta da escuta, em produção literária e musical urbana, capaz de proporcionar prazer estético e reflexão.

O CONCEITO DE BULBRAX

Flávio Paiva criou o conceito de BULBRAX inspirado no sentido de vínculos que os bulbos representam na sua potência multiplicadora como touceira. Ele tomou emprestado essa simbologia da botânica para semear como semelhança lógica ao falar das estruturas vinculares e das interdeterminações e resiliência dos mais diversos grupos sociais, capazes de lançar de si os impulsos culturais das alianças ocultas que tecem a trama da nossa vida urbana.

SOCIOMORFOLOGIA CULTURAL

Com a expansão dos padrões hegemônicos decorrente da globalização e a retração dos grupos marginalizados tornou-se cada vez mais necessário promover a arte que revolve a cultura dos lugares, sobretudo nos centros urbanos.

Em que pese a liberdade oferecida pela tecnologia digital e da comunicação em rede, as manifestações culturais seguem controladas por monopólios da nova e da velha indústria cultural.

A importância da proposta de BULBRAX para o debate sobre cultura está, principalmente, na força que a combinação da literatura com a música tem na abertura de novas janelas de circulação da produção musical.

Construído ao longo do ano de 2016, BULBRAX é um trabalho que visa contribuir com a ressignificação da sociomorfologia cultural de Fortaleza, cidade com 290 anos de elevação à condição de vila; passo decisivo para o início da grande e importante cidade que se tornou. É também a data em que Flávio Paiva completou 40 anos de convivência intensa com a cidade, onde mora e trabalha desde agosto de 1976, quando tinha 17 anos.

PULSÕES CRIATIVAS

A contribuição de BULBRAX aos aspectos estéticos e sociais de Fortaleza está diretamente vinculada às pulsões criativas nem sempre visíveis que integram a cidade. Cada página do livro e cada composição do disco procura mostrar a coesão e as contradições de um lugar tão rico em sua formação humana quanto empobrecido por consequência do desconhecimento da sua força multitudinária sedimentada por padrões culturais diversos e plurais.

BULBRAX abre à fruição e à reflexão um conjunto de sentimentos e emoções relativos aos jeitos de amar e desamar a cidade.

O REPERTÓRIO DO CD

A busca por alteridade nos encontros e nas descobertas das oportunidades culturais está em Canção de Bulbrax (Gustavo Portela / Flávio Paiva), assim como o pressentimento de que há algo não revelado no coração da cidade, pode ser ouvido em Não Sei Nada Sobre Você (Daniel Medina / Flávio Paiva). As contradições da lenda alencarina e seu choque com a urbanidade é tratada em Iracema Brechtiana (Flávio Paiva) do mesmo modo que o distanciamento comum, de ricos e pobres, da memória, da história, da cultura e da natureza é ponto de atenção de Igualdade Infeliz (ILYA / Carlos Hardy / Flávio Paiva).

Cada canção vai aproximando o diverso em BULBRAX. A ocupação dos terrenos baldios da cultura soam em O Vento e a Flor de Seda (Eugênio Leandro / Flávio Paiva) e se ligam com a vida das pessoas que dão sentido à cidade, mas que são consideradas improdutivas, como se pode escutar em Já Dizia Saladino (Jord Guedes / Flávio Paiva). Situação semelhante acontece com quem abre os horizontes da metrópole distópica, reconfigurando as ruas com intervenções visuais, cantadas em Rua Favorita (Sivirino de Caju / Lucas Paiva / Flávio Paiva).

O som de BULBRAX desperta para a busca de um grande amor em meio à animação festeira de Fortaleza, como diz o Forró do Fico (Orlângelo Leal / Flávio Paiva), ou para a volta da primeira mulher de Adão às ruas da cidade, em um tempo que Eva perdeu o encanto, no ritual de inversão de Lilith no Carnaval (Wilton Matos / Flávio Paiva). Por fim, o show de ILYA abraça a profunda relação de Fortaleza com o mar e seu altar zodiacal, Latitude (Tato Fischer / Flávio Paiva).

O AUTOR

Flávio Paiva nasceu em 1959, na cidade de Independência, sertão dos Inhamuns, interior do Ceará. É colunista semanal do caderno Vida & Arte do jornal O POVO e autor de livros nas áreas de cultura, cidadania, gestão compartilhada, mobilização social, migração, memória, infância e música. Sua obra se destaca pela combinação de literatura e música, manifestada em livros-cds destinados a crianças, jovens e adultos.

Em seus oito livros-cds anteriores, dentre os quais “A Casa do Meu Melhor Amigo” (Cortez Editora) e “Invocado – Um Jeito Brasileiro de Ser Musical” (Armazém da Cultura), conta com a parceria de renomados compositores como Abidoral Jamacaru, Anna Torres, Bia Bedran, Dilson Pinheiro, Fanta Konatê, Orlângelo Leal, Rebeca Matta e Tarcísio Sardinha, em ilustrações musicais interpretadas por nomes de destaque da música brasileira de qualidade, a exemplo de André Abujamra, Antônio Nóbrega, Edvaldo Santana, Giana Viscardi, Lucas Espíndola, Marcelo Pretto, Ná Ozzetti, Olga Ribeiro, Sérgio Espíndola, Suzana Salles e Válerie Mesquita.

A INTÉRPRETE

A cantora ILYA participa da experiência de coletivos de experimentações artísticas e tem se destacado como revelação no cenário da música em Fortaleza. Ela foi convidada por Flávio Paiva para ser a voz de BULBRAX por ser uma cantora de textura vocal própria, de cantar ardente, comportamento rebelde e presença que nega o conceito de mainstream.

Com interpretação puxada das plataformas imagéticas das composições, ILYA é a voz das ilustrações musicais do repertório do disco que integra o livro-cd BULBRAX, de Flávio Paiva, obra de conceito polissêmico, que lança mão da literatura e da música, tanto quanto recorre a referências da antropologia, da psicologia e da sociologia para contar e cantar a cultura de Fortaleza.

O PRODUTOR MUSICAL

O convite de Flávio Paiva ao multiartista Gustavo Portela para fazer a produção musical está associado ao fato de ele ser um artista que decifra bem ritmos, beats e programações, além de estar intimamente afinado com a linguagem teatral, aspecto de grande importância para o entendimento do que pede a narrativa do livro-cd BULBRAX em sua materialização sonora.

A bem cuidada e competente produção musical de Gustavo Portela, com guitarras fortes, marquinária vibrante, ritmos carnais e imersões em timbres sintéticos consolida os argumentos de que Fortaleza é um potência de diversidade a ser desenvolvida e compartilhada. O formato das gravações, com os mesmos músicos atuando em todas as faixas, salvo uma ou outra exceção, reforça a organicidade sonora do trabalho em uma pulsação que nem é local nem estrangeira, apenas BULBRAX.

PARCEIROS

As composições do show BULBRAX apresentam um espírito entrelaçado pela narrativa do livro-cd sobre vínculos, como fruto da produção coletiva de parceiras e parceiros de estéticas formadoras da interculturalidade fortalezense, dentre os quais Carlos Hardy, Daniel Medina, Eugênio Leandro, Gustavo Portela, Ilya, Jord Guedes, Lucas Paiva, Orlângelo Leal, Sivirino de Caju, Wilton Matos e Daniel Groove, que faz participação especial na faixa Igualdade Infeliz (Ilya, Hardy e Flávio Paiva).

As trocas externas de olhares sobre a cidade foram feitas com o compositor paulistano Tato Fischer, em Latitude (a única regravação do disco), e com o compositor e cantor Chico César, que faz participação especial, cantando com a Ilya o Forró do Fico (Orlângelo Leal e Flávio Paiva).