Diário do Nordeste, Caderno 3, 30/08/1997
A programação de lançamento do CD “Terra do Nunca”, do jornalista e compositor Flávio Paiva, continua hoje, no The Wall Bar, às 22 horas, dentro do projeto Brahma Cultural Aerocanta. Na quinta-feira passada, Paiva, com a intérprete Anna Torres, o baixista Paulo Lepetit e banda fizeram um show para mais de 450 pessoas no Domínio Público, que recebeu muito bem as músicas do segundo CD do artista. O público dançou muito ao som dessa rapaziada, com uma canja especial do trombonista Bocato, músico paulista em ascensão.
Não foi à toa que Flávio escolheu a cantora maranhense, natural de Lago da Pedra, a 5 horas de São Luís, Anna Torres, para dar voz às suas composições. Essa mestiça, filha de uma mistura de ancestrais negros, índios e portugueses, tem uma voz aveludada que abrilhanta o CD e o show. Além da presença vocal, a performance no palco ajuda a soltar o público, quando dança e convida para uma interação. Um exemplo disso foi a música “Degrau por Degrau”, um reggae que fechou o show de quinta, que fez a galera cair na dança.
Aos 24 anos, Anna começou sua carreira em julho de 1990, cantando em bandas de baile – onde interpretava as músicas de sucesso do momento. Depois, fez o circuito de bares em São Luís, dessa vez cantando solo. Num repertório com vez para MPB e para Bossa Nova. No meio termo, sempre fez jingles de publicidade, tudo para se manter com sua arte.
Não foi em vão. Partiu com a família para São Paulo, onde ganhou muitas experiências novas. Trabalhou com o cantor e músico Oswaldo Montenegro, no musical “Noturno”, em 1992, em 4 meses de temporada. Mas, vez por outra, voltada para São Luís, onde formou um público próprio. Chegava a hora de partir para o primeiro trabalho – um CD.
E 1995, foi um ano decisivo para Anna. Estreou em CD – “Anna Torres”, disco independente, com tiragem de 3.500 exemplares, que teve receptividade, em São Luís. “Foi muito boa a resposta do público”, lembra ela, com um sorriso. Fez o show de lançamento no maior teatro da cidade, o Teatro Artur Azevedo. Com algumas composições próprias, , das 11 do CD, Anna colocou para fora sua veia poética.
No mesmo ano resolveu mudar para o Rio de Janeiro, buscando novos horizontes. Até hoje está lá. Canta na noite. E recebe muitos convites. Um deles foi feito para defender um samba enredo da escola Beija-Flor de Nilópolis. Também participou da trilha sonora do filme “Doces Poderes”, de Lúcia Murat. Roberto Menescal, um dos papas da Bossa Nova, ouviu a voz dela e se apaixonou. Com ele, gravou uma música para um CD institucional da Companhia Vale do Rio Doce, representando o Maranhão. “”agora ele me chamou para gravar um CD de new-bossa, no Japão, onde tem um selo, mas nada está definido”, adianta. Enquanto isso não acontece, faz o Rio Jazz, Mistura Fina e Jazz Mania.
Daí partiu para o “Terra do Nunca”, um triângulo musical entre ela, Flávio Paiva e Paulo Lepetit. “Foi amor à primeira vista”, disse ela. “Nos shows, a gente busca fazer igual ao disco, com muita energia – pois nossa banda é maravilhosa”. E é isso que o público pode esperar.