O Povo – Turismo – Fortaleza-Ce, quinta-feira, 28/03/2002
Uma obra autoral, é como definem os jornalistas Flávio Paiva e Miguel Macedo a terceira edição do Guia de Praias do Ceará, totalmente reformulado. Deve ser lançado na segunda quinzena de abril
Por Márcia Gurgel
Para elaborar a terceira edição do Guia de Praias do Ceará, os jornalistas Flávio Paiva e Miguel Macedo voltaram a percorrer todo o litoral. A publicação deixa de ser bilíngüe (português-inglês). Em compensação, traz outras vantagens, como a ampliação das fotos e uma separação mais clara entre as impressões dos autores e como chegar ao destino desejado, explica Paiva. Campos dunares, falésias, manguezais se espraiam ao longo da costa. Da última viagem, há cerca de três anos, para o roteiro atual, os jornalistas observaram grandes mudanças, principalmente em infra-estrutura no litoral oeste, após a construção da via estruturante, mas não houve, na mesma proporção, ganhos para as populações.
Com a estrada do sol poente, como é também conhecida a estruturante, que nasce em Caucaia , no entroncamento da rodovia que leva às praias de Iparana, Pacheco, Icaraí e Tabuba, Paiva observou melhoras significativas no acesso e até mesmo em infra-estrutura hoteleira, como no município de Camocim, que inaugurou o Resort Boa Vista, mas o serviço de atendimento, em geral, é ainda precário. O litoral oeste se destaca pelos campos dunares e pelo manguezal enquanto, no leste, melhor estruturado, a paisagem é marcada pelo coqueiral mais denso e pelas falésias.
“O litoral oeste é mais desprovido de estrutura, mas desde a última viagem para o Guia já observamos melhora considerável com investimentos do Prodetur I, em estradas e saneamento. O acesso às praias está mais fácil. Há novas pousadas e até as antigas progrediram. Entre as pousadas de estrangeiros e de brasileiros e de sulistas e de nativos já se nota que houve melhora, como encontramos em Lagoinha, Guajiru, Flecheiras e Mundaú”, confirma o jornalista Miguel Macedo. “De certa forma, esses equipamentos ainda não beneficiam as comunidades locais. Os nativos continuam como mão-de-obra desqualificada. Os empregos especializados são de gente de fora. Tomara que o Prodetur II invista na qualificação”, completa.
Macedo lembra a importância do turismo “como algo não tão impactante para a natureza. O que agride são os grandes empreendimentos, as construções nas falésias e nas dunas, que estão loteadas, como no Iguape”. A proliferação de fazendas de camarão em vastas áreas de mangues também o preocupa. “A especulação está levando á ocupação da beira de praia. Causam-nos estranheza como certos empreendimentos são atendidos. Existe uma estrada de 8km de asfalto que termina no acesso à uma fazenda de camarão, em uma área de mangue. Nativos estão perdendo seus espaços. Há comunidades já impedidas de ter acesso ao mar, aos pequenos portos de embarcações. Em Paracuru, existem 17 pousadas e 24 hotéis, vários deles em área de mangue, de restinga, perto da foz do rio”, denuncia.
A conclusão de Macedo é que “as pessoas que trabalham com turismo no Ceará deveriam cuidar para que aqui não se repetissem os males causados a Cancún, Acapulco e Barcelona, por exemplo. As gerações futuras merecem a oportunidade de se envolver e se deslumbrar com o litoral cearense, todo ele muito bonito, heterogêneo, formado por mangues, dunas, rios que são verdadeiros colírios. A enseada do Mundaú é um exemplo”. E adverte, com a experiência de quem percorreu toda a costa: “Se continuar essa política de atração de grandes empreendimentos sem levar em conta a tradição, a cultura local, a culinária, a ocupação da mão-de-obra, o Estado, definitivamente, não ganha com a indústria do turismo.
Esgotados números anteriores
O Guia de Praias em sua terceira edição deve ser lançado na segunda quinzena de abril, pela Fundação Demócrito Rocha. As duas primeiras, já esgotadas, saíram em 1997 e 1999, respectivamente. Terá 200 páginas, duas delas com fotos abertas e detalhes, o que era uma reivindicação dos usuários. Outra é a melhor distinção das impressões dos autores sobre os locais recomendados e como chegar à praia citada, que agora vem no rodapé do livro. “Há uma transformação total em relação às duas edições. Inventamos um guia com a nossa cara”, diz Flávio Paiva, que assina o trabalho , ao lado de Miguel Macedo.
Entre as idas e vindas em 12 dias, quando rodavam do amanhecer ao pôr-do-sol, Paiva e Macedo não sabem quantos quilômetros percorreram no carro de tração nas quatro rodas, subindo em dunas, atravessando rios em balsas ou se aventurando no manguezal. Todos os 573km do litoral cearense, que vai do Piauí ao Rio Grande do Norte, foram revisitados. Na volta, os autores passaram mais cinco meses trabalhando textos e fotos. Os dois assinam também o projeto gráfico. A primeira tiragem será de 5 mil exemplares.
O novo Guia traz indicações de mais de 100 praias. Algumas das 220 localidades contidas nas versões anteriores serão substituídas.
“O percurso de Sobral, por exemplo, foi modificado. Trocamos Primavera pela via estruturante”, explica Paiva. A edição traz descobertas como a praia do Boi Choco, entre Dois Coqueiros e Pacheco, no município metropolitano de Caucaia. Guajiru de Itarema, que era percurso principal, se tornou secundária da praia Mulheres de Areia, por causa de uma nova estrada construída no local.