LEMINSKI E AS MARGENS. Na palestra “A plenitude das margens” farei uma abordagem do Paulo Leminski experienciador de possibilidades poéticas; um inquieto, cuja adrenalina criadora se expressava no prazer da desnormalização das leituras do mundo. Busquei para a minha fala o cenário das margens pelo que ele traz de caráter metafórico de fertilidade, onde um ser múltiplo como ele, me parece, se sentia mais ambientado; já que o leito do rio tende à esterilidade produzida pela força concentrada das correntes hegemônicas na perspectiva limitadora das etiquetas. Falarei do poeta que transitou por muitas fontes, mas que saciou a sede na liberdade de não se acomodar em uma ou outra; sempre atraído pelo plural na sua mescla de vida e obra e pela liga transformadora da palavra e da imagem na aventura do pensamento.

Isso foi o que respondi ao jornal por telefone; a matéria saiu assim:

Flávio Paiva fala sobre Leminski na Caixa Cultural
Jornal Diário do Nordeste – Caderno 3, pág. 6, 06/10/2015 

FAC-SÍMILE

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Por Felipe Gurgel

O jornalista e escritor cearense Flávio Paiva realiza hoje, às 19h30, a palestra “A plenitude das margens – uma poética do fluxo leminskiano”, no teatro da Caixa Cultural Fortaleza (Praia de Iracema). O evento, com acesso gratuito, é parte da programação "Múltiplo Leminski", exposição em cartaz no local até 8 de novembro.

Na ocasião, Paiva divulgará o número 163 da “Rivista do Mino” que traz na edição impressa um ensaio exclusivo, de sua autoria, sobre o lugar de Paulo Leminski e sua obra no contexto da cultura brasileira e de seu diálogo global. O escritor cearense explica a ponte que há entre a própria visão de mundo e o universo evocado pelo poeta curitibano.

“Não diria que há uma influência propriamente dita, mas diria que entre nós existe um ‘assemelhamento’ de posturas. Ele foi um cara que atuou em diversas frentes, todas ligadas a uma poética da existência. Se sentia feliz em trabalhar o jogo das linguagens. Com uma postura muito clara de circular pelas margens, sem ficar preso ao fluxo da cultura”, situa.

Paiva destrincha a ideia do “fluxo leminskiano”. “No leito do rio não há fertilidade, porque a correnteza não é forte. A vida se reproduz nas vertentes, nos alagados, nos vazantes. Ele teve uma música gravada em novela, por exemplo, passando pelo ‘leito’, mas sempre com a consciência de que a biodiversidade criativa está nas margens”, observa.

Segundo Flávio Paiva, Paulo Leminski procurava a profundidade na simplicidade. O cearense cita o trabalho do curitibano como biógrafo, explorando as trajetórias de Bashô, Cruz e Sousa, Jesus Cristo e León Trótski.

“Ele (Leminski) falou da Revolução Russa a partir da paixão do pensamento do Trotski, fazendo a distinção de que o Trotski não era só um revolucionário, mas um apaixonado pela ideia da revolução. Viu Jesus Cristo como um grande poeta, com capacidade de conversar, via metáfora, com pessoas do campo, com pescadores”, exemplifica o cearense.

Exposição
Paiva já conferiu “Múltiplo Leminski”, e dá sua impressão. “A exposição consegue ser quase uma metalinguagem. Ela coloca os poemas do Leminski, expressando visualmente o que simboliza essa linguagem. Tem a força de combinar o signo e a palavra. E isso me agradou demais. Você sente o Leminski lá dentro”.

Mais informações:
Exposição “Múltiplo Leminski”. Em cartaz até 8 de novembro, na Caixa Cultural Fortaleza (Av. Pessoa Anta, 287, Praia de Iracema). Visitação: de terça a sábado, das 10 às 20h; domingo, das 10 às 19h. Entrada gratuita. Contato: (85) 3453.2770

Fonte: Diário do Nordeste