Jornal O Povo – Vida & Arte – Fortaleza, 03/11/1994
O jornalista Flávio Paiva reuniu no CD Rolimã composições de tendências as mais variadas
Embora sido lançado formal aconteça apenas no dia, no CDL, às 18h30min, o CD “Rolimã – Flávio Paiva em Parcerias” já está sendo executado por algumas rádios de Fortaleza. As músicas “Estroboscópica”, interpretada pela cantora Kátia Freitas, “As Acácias têm Alma”, com Eugênio Leandro, “Bolha”, na voz de Mona Gadelha, e “Luiz Assumpção”, cantado por Ricardo Black, vêm puxando o disco e consolidando o seu espaço na mídia local. O compositor Cláudio Nucci apresentará o disco.
Lançado pelo selo Camerati, de São Paulo, o “Rolimã” é uma coletânea de composições do jornalista Flávio Paiva em parcerias com outros artistas cearenses, dentre os quais Calé Alencar, Eugênio Matos (ex-Banda Oficina), Tarcísio José de Lima, Tarcísio Sardinha e os irreverentes Tarcísio Matos e Falcão. São músicas de estilos variados, compostas nos últimos dez anos. Tem baião, balada, rock, boi do Maranhão, modinha e até canção de ninar.
Para Flávio Paiva, é preciso respeitar o tempo de demora de cada coisa. “Há um arquétipo sistêmico que trata desse assunto. Nós, cearenses, vivemos muitas vidas ao mesmo tempo e temos que administrar emoções distintas no nosso cotidiano. Sou um multivitae que trafega nesse redemoinho todo procurando sentir e dar prazer ao ato de viver”, explica o jornalista.
O CD “Rolimã” está no catálogo de novos lançamentos da Camerati e, segundo a cantora Mona Gadelha, que dirige o departamento de Marketing e Projetos Especiais do selo paulista, já se encontra em lojas de vários estados brasileiros e foi pedido também por um cliente do Japão, que “normalmente solicita trabalhos da boa música nacional”. Em Fortaleza, a distribuição está entregue à Manoel Matoso Distribuidora Cultural, empresa encarregada também do lançamento que deverá acontecer na sede do Clube dos Diretores Lojistas, em data a ser confirmada.
Flávio Paiva diz que gosta da idéia de fazer o lançamento no CDL porque amplia o público consumidor do tipo de música do “Rolimã”. “Tenho discutido muito nos últimos anos, com artistas da nova geração da música no Ceará, a importância de que tantas produções interessantes que têm sido feitas aqui possam ser apreciadas por um número maior de pessoas. O relacionamento incestuoso dos nosso órgãos oficiais de cultura com os artistas tem provocado limitações na capacidade empreendedora dos que fazem arte no Ceará”, critica.
O autor de “Rolimã” espera que no governo Tasso a Cultura cuide um pouco mais dos conteúdos e não apenas de fantasias de pedra e cal. “Temos um patrimônio cultural invejável que vem sendo colocado em segundo plano, ao mesmo tempo em que o Ceará projeta seu farol na trilha do desenvolvimento turístico. Se não cuidarmos do que temos de mais especial, que são as nossas peculiaridades culturais, estaremos investindo em um turismo efêmero, repetindo a fábula da galinha dos ovos de ouro”, alerta Flávio Paiva.
O tratamento do Estado para com os artistas deveria ser mais profissional, segundo o jornalista e compositor. “É claro que existem os casos em que é preciso garantir referências fundamentais da nossa memória e das nossas manifestações estéticas mais dissociadas das tendências contemporâneas muitas vezes alheias aos nossos valores mais legítimos, mais radicais. Mas, na maioria das vezes, seria importante que o artista deixasse de ter sua criação vista como sub-produto ou hobby. Não custaria tanto aos governos e o resultado passaria a depender da capacidade de organização dos interessados em sair do paradigma do pires-na-mão para um relacionamento sadio com o público, com o mercado. É possível. Afinal, no que depender de talento, o Ceará tem de sobra”, conclui.