Jornal O POVO, Turismo – Viagem do Leitor , Fortaleza, 22/08/2002
 
Sol, mar, areia. Para quem gosta dessa mistura, o Ceará é o destino certo. Além das belas paisagens, as praias cearenses esperam o visitante com um povo hospitaleiro e uma culinária deliciosa à base de frutos do mar.

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Se o litoral do Ceará já e um dos maiores do Brasil, com 573 quilômetros de praias, imagine percorrer essa distância mais de 60 vezes. O casal Ana e Adelmir Jucá fez isso nos últimos três anos. De carro, eles viajaram mais de 35 mil quilômetros conhecendo as praias do Estado. Sempre depois de uma semana cheia de trabalho e preocupações (os dois trabalham na área educacional), o casal resolve pegar o carro e sair no fim de semana passeando pelo litoral cearense.
No início, eles não tinham muita orientação. Ao chegarem nas praias mais distantes perguntavam para os nativos os nomes e as histórias dos locais. Num das viagens, o casal, sem querer, acabou conhecendo a praia de Galinhos, no Rio Grande do Norte. Quando a primeira edição do Guia de Praias do Ceará, Edições Demócrito Rocha, chegou às bancas em 1997, Adelmir decidiu comprá-lo.
Com o mapa, as dicas de serviços e as informações turístico-culturais do livro, os passeios do casal ficaram melhor orientados. “Conhecendo o guia, passamos a marcar no mapa todas as praias por onde passávamos”, diz Adelmir. Não é à toa que hoje, de tanto manuseio mais o desgaste da água e do vento, o mapa mais parece um quebra-cabeça. Além das indicações de localização, o casal também consultou o guia para obter dicas de pousadas.Alguns locais, no entanto, foram sugestões de amigos. “Ao invés de termos uma casa de praia resolvemos ter uma casa em cada praia”, diz Ana.
Histórias não faltam para contar. Como a infra-estrutura hoteleira não suficientemente boa em todo litoral cearense, o casal já teve de dormir na varanda da casa de particulares e até em uma pousada familiar com um só quarto. “para ter idéia o café da manhã era servido na cozinha da Lúcia, a dona da pousada”, lembra Ana com todo bom humor.
E bom humor é o que não falta para o casal. O objetivo dos passeios é justamente não se preocupar e não seguir uma programação rígida. Se a conversa com o dono de um bar está interessante ou se encontra um turista pedindo orientações, o casal dá uma pausa na viagem seja por quanto tempo for. Quando viajam no sábado, eles já tiram o relógio do pulso. O celular fica ligado para alguma emergência, mas com um detalhe. “Se me ligam para resolver um probleminha de trabalho ou outra coisa, eu digo que estou no Icaraí de Amontada (praia do Litoral Oeste a 246 quilômetros de Fortaleza) e a pessoa já sabe que não vou poder voltar e resolve ela mesma o problema”, diz.
Se para muitos, fazer uma viagem dirigindo um carro já significa cansaço, para Adelmir faz parte de um bom passeio. Eles já visitaram alguns lugares mais de uma vez, inclusive praias mais isoladas. “Já chegamos a sair no sábado, só para dormir em Jericoacoara e voltar”, diz Ana. A praia, distante 341 quilômetros de Fortaleza, é uma das preferidas e destino certo da família (o casal tem dois filhos) nas festas de reveillon. Outros locais que recomendam são as dunas do Cauípe, as praias de Tremembé, Redonda, Icapuí e a deserta Almofala. Desde que começaram o roteiro de praias, o casal não visita as serras. É só areia, sol e mar.
O roteiro raramente é definido com antecipação. Eles contam que chega sexta-feira e um pergunta para o outro: vamos para onde? No fim de semana passado, no entanto, a viagem já estava programada. Ana e Adelmir queriam mostrar para um casal carioca que estava passando uns dias no Ceará, as belezas das dunas do Cauípe.

Dirigir, velejar e saborear 
O início das viagens de Ana e Adelmir coincidiu também com o começo de uma outra paixão: a prática do windsurf. No Cauípe, litoral oeste, o casal fez um curso básico e sempre tenta praticar o esporte nas praias que conhece. O equipamento vai na bagagem ou é alugado no destino. E por falar em bagagem, o casal viaja preparado. Kit de primeiros socorros, equipamentos e ferramentas para o carro, lanches, água, cadeiras plásticas dobráveis e até uma churrasqueira improvisada (com quatro estacas, grelha e carvão) para ser montada na areia mesmo. Outra preocupação do casal é sempre viajar com um depósito para colocar lixo. O importante é manter as praias sem sujeira.
Com tantas viagens, o casal tem boas recomendações sobre a gastronomia do litoral. Na praia de Barro Preto, por exemplo, a 39 quilômetros da Capital, eles destacam o caranguejo do Tatá. “É o melhor do mundo”, avalia Adelmir. Na Taíba, distante 77 quilômetros de Fortaleza, a dica é conferir os pratos à base de peixe. Outra boa lembrança é a hospitalidade do povo cearense. Principalmente nas praias mais desertas, típicas vilas de pescadores, tratar bem o visitante é um instinto natural, daquels que nem sabem direito o que é hospitalidade. Ana conta que numa dessas praias, quando já iam dormir, um menino bateu à porta dizendo: “Meu pai está chamando vocês”. Quando chegaram no casebre, encontraram o pescador torrando peixinhos num latão cheio de carvão.
Mas restam também algumas críticas. Para eles, falta sinalização nas estradas e indicações turísticas. Quanto à infra-estrutura hoteleira, eles acreditam que muitos locais ainda deixam a desejar, principalmente para turista estrangeiros, que são mais exigentes e querem mesmo é conhecer bonitas paisagens em um hotel confortável. “Infelizmente ainda perdemos para litorais como o de Pernambuco”, reconhece Adelmir. Ele lembra também que em muitos locais são crescentes os empreendimentos de estrangeiros principalmente italianos, portugueses e suíços.
E por falar em estrangeiros, foi quando se hospedaram numa pousada de um suíço que eles vivenciaram uma engraçada história. O dono costumava fechar cedo e o casal não sabia. Quando chegaram na pousada, às 22 horas, o restaurante estava fechado. Acabaram num botequim, jantando sardinha com refrigerante de caju. “São tantas as emoções”, brinca Ana.
Agora que compraram a nova edição do Guia de Praias do Ceará, o casal quer passar tudo “a limpo”, refazendo as viagens. “Falta ainda conhecermos as praias já próximas ao Piauí”, afirma Adelmir.