Revista Fale! – Ano VI – Nº 64, 2009
CAPA |
A trajetória árdua, de muito trabalho e arrojo de José Macêdo é retratada por suas próprias palavras no livro “Parece que foi amanhã”, uma exaltação ao empreendedorismo e à visão de futuro
Para celebrar os 90 anos do empreendedor José Dias Macêdo foi lançado o livro “Parece que foi amanhã — As ideias que levaram ao futuro o empresário, patriarca e cidadão José Macêdo”, organizado por Flávio Paiva e João de Paula Monteiro, a partir de depoimentos do empresário a jornalistas e colaboradores. Com seu talento para os negócios, José Macêdo ajudou a construir as bases industriais do Brasil nos primeiros anos do século XX, com a criação do grupo J. Macêdo. A publicação, com o selo da Omni Editora, foi lançada no Espaço Casa Cor durante as celebrações dos 70 anos de atividade do Grupo J. Macêdo. Em sua 11ª edição, a Casa Cor 2009 está sediada em imóvel pertencente ao grupo, com 10 mil m² de área.
O livro recorda diversos aspectos dos últimos 20 anos na vida do empresário, através de respostas suas dadas a jornalistas, estudantes e funcionários de sua empresa, em meios impressos. Trata-se de um belo conjunto de pensamentos marcantes sobre a vida, os negócios, a família, valores e crenças, em imagens e em histórias de um industrial pioneiro que se tornou um dos ícones de sua geração.
A história de vida de José Macêdo, impressiona: iniciou nos negócios aos 12 anos, acompanhando o pai comerciante, seu Manoel. Já aos 20 anos se tornou comerciante, vendendo quase tudo e deu início à construção do que seria um futuro conglomerado de empresas e um dos pilares do desenvolvimento do Ceará. Conquistou seu patrimônio apostando nos mais diversos seguimentos (Jeep americano, farinha de trigo, cerveja, pneus, tintas, só para citar alguns) e enfrentou momentos dos mais turbulentos da História do Brasil.
Hoje, o Grupo J.Macêdo, com as marcas Dona Benta, Sol, Petybon e Brandini, é o primeiro do Brasil em farinha de trigo doméstica e em mistura para bolo e o segundo em massas alimentícias. No setor de tintas, com a marca Hidracor, é o primeiro do País em tintas hidrossolúveis e o primeiro do Norte e Nordeste em texturas, e o terceiro em tintas líquidas. Em transformação de energia é a maior empresa de transformadores do Norte e Nordeste e o maior fornecedor de transformadores para os parques eólicos do Brasil.
Uma biografia do pensamento
No manuseio dos materiais relativos à preparação das comemorações dos 70 anos do Grupo J.Macêdo, observou-se uma característica de seu fundador, que é a capacidade de condensar pensamentos marcantes sobre a vida, os negócios, a família, valores e crenças, em frases e em histórias.
Ao longo dos anos, os ditos de José Dias de Macêdo têm balizado as atividades das empresas do Grupo nos diferentes momentos de sua evolução. É famosa a resposta dada ao cartunista Mino, quando este perguntou-lhe, décadas atrás, a que ele atribuía o seu sucesso empresarial:
“Sempre que alguém me pergunta qual a fórmula que usei para comandar a evolução permanente de J. Macêdo, do Ceará para todo o Brasil, costumo dizer que, além da obstinação pelo trabalho, procurei em toda a minha vida de atividade empresarial cercar-me de profissionais melhores do que eu.”
No texto de apresentação do Código de Ética e de Conduta da J.Macêdo S/A, lançado em 2008, a fala do fundador organiza alguns preceitos essenciais para orientar as relações internas e externas da empresa, em sentenças curtas e claras, como na seguinte formulação:
“A maior riqueza da nossa organização é que ela, mesmo sendo um empreendimento privado, nunca agiu apenas como uma realizadora de negócios. Embora cultivando todas as características indispensáveis a uma empresa competitiva, a J. Macêdo sempre se considerou uma instituição a serviço do desenvolvimento.”
Igual manifestação desse gosto de fazer reflexões sobre o que constrói, José Macêdo declara em depoimento publicado no livro História Empresarial Vivida – Depoimentos dos Empresários Brasileiros Bem Sucedidos – Vol. IV. Cléber Aquino (Org.), Editora Gazeta Mercantil, São Paulo, 1988, que:
“O empresário tem que estar atento à função social da empresa, não só como contribuinte fiscal e pelas oportunidades de emprego que oferece, mas, especialmente, pela responsabilidade em termos de desenvolvimento econômico e de elevação do nível de bem-estar social.”
Conceituando sobre a atividade empresarial, ele sempre procurou compartilhar seu aprendizado com os funcionários, como neste pensamento difundido internamente pelo Boletim Informativo, da J.Macêdo CAP, em agosto de 1979:
“É necessário correr riscos suportáveis, procurando compatibilizá-los com nossa capacidade de suportar fracassos. Mas devemos distinguir o ousado do temerário.”
O mesmo órgão de informação interna, edição de setembro/outubro de 1979, repercute a fala de José Macêdo, por ocasião do recebimento da Medalha do Mérito Industrial, da Federação das Indústrias do Ceará, Fiec, em 11/10/1979, na qual destaca-se um comentário sobre sua visão a respeito do delicado momento político que vivia o Brasil, no final do regime militar:
“Em que pese seus riscos, o processo de abertura política apresenta expectativas promissoras. Seja pela emergência de novas lideranças, seja pela devolução do poder de crítica aos meios de comunicação, seja pela possibilidade de alívio das tensões sociais, seja pelo restabelecimento do estado de direito.”
Em vários momentos da sua vida, José Macêdo expressou, em frases variadas, sentimentos motivados pela sua índole de pessoa simples, condescendente, comedida nos gastos e apaixonada pela natureza. Uma dessas expressões foi registrada pela jornalista Wânia Cysne, na Revista Fame, que circulou na edição de 22 de março de 1980, encartada no jornal O Povo, em uma entrevista tipo pingue-pongue:
“Eu me entedio com o papo dos gabolas. Eu protesto contra o hábito dos brasileiros de todos os níveis querendo viver como se o País fosse uma grande sociedade de consumo. Eu reivindico mais justiça social. Eu susto providências em nossas indústrias que possam prejudicar o meio ambiente.”
Das suas frases que não foram publicadas, mas que circulam pelos corredores das empresas do Grupo J.Macêdo, uma traduz com grande propriedade o seu cuidado com a clareza da comunicação:
“Mais importante do que eu digo é o que você entende.”
E isso não é apenas uma forma de dizer, pois é muito frequente José Macêdo terminar uma conversa solicitando:
“Me diga agora o que você entendeu do que eu lhe disse.”
A constatação do seu estilo de procurar explicar sua prática por meio das palavras, hábito manifestado muitas vezes em reuniões que ele convocava apenas para compartilhar pontos de vista com funcionários, suscitou a curiosidade de reunir o que pudesse haver registrado sobre suas ideias.
Seu jeito de transmitir conhecimentos, próprio dos contadores de histórias, está preservado em inúmeros documentos da família e da empresa. Entretanto, optou-se neste momento por uma compilação de respostas dadas em entrevistas, publicadas em jornais e revistas, nas duas últimas décadas.
O exame dessas entrevistas revela um José Macêdo sempre atencioso em responder a indagações de interlocutores dos mais diversos ambientes e sobre os mais variados temas.
Este livro é apenas um recorte temporal, focado em meios impressos e circunscrito às respostas dadas em diferentes momentos. A bem da compreensão e do propósito de mostrar um pensamento integrado, tomou-se a liberdade de selecionar trechos, de aproximar, espacialmente, ideias afins e de editar algumas expressões para ajustá-las aos variados contextos, sempre com o cuidado de preservar a essência das formulações. Ainda com a intenção de situar melhor o leitor, foram feitas algumas atualizações de dados e complementações de informações, usando-se o recurso convencionado de colocá-las entre colchetes.
No processo de organização do texto, percebeu-se que as frases e as histórias de José Macêdo requeriam um espaço especial de contemplação que possibilitasse ao leitor sentir a dimensão humana das suas revelações. Considerando isso, optou-se neste livro por um formato gráfico que possibilitasse a visualização dos conteúdos com leveza.
Para a apresentação, recorreu-se, com a devida licença de estilo, a trechos das aberturas das entrevistas pesquisadas, como forma de expor o tipo de sentimento que o entrevistado despertou nos entrevistadores. A identificação dos entrevistadores e a época em que foi feita cada entrevista, estão realçadas por meio de legenda de cores, com as seguintes distinções:
Agostinho Gósson, 1988, Demitri Túlio e Cláudio Ribeiro, 2004, Érico Firmo, 2004, Flávio Paiva, 2008, Estudantes do Curso de Comunicação da UFC, 1993 e Funcionários do Grupo J.Macêdo, de 2005 a 2007.
É importante esclarecer que esta publicação não pretende historiar a trajetória da empresa, que está devidamente narrada no livro “J.Macêdo – uma Saga Empresarial Brasileira”, do jornalista Glauco Carneiro (Edicom, 1989, São Paulo), cobrindo os primeiros 50 anos da J.Macêdo.
A memória do Grupo J.Macêdo está sendo sistematizada e será disponibilizada ao público por meio do Centro de Memória Dinâmica Monteiro Lobato, CMDML, que homenageia o grande escritor brasileiro e empreendedor da brasilidade, e que servirá de espaço para expor a vida e obra do Fundador José Macêdo, a evolução do modo J.Macêdo de empresariar e a atuação das empresas nos seus respectivos mercados.
Este livro é, portanto, um tributo às ideias de alguém que chegou ao futuro. Alguém que nos seus 90 anos conquistou o que se propusera alcançar como empresário, patriarca e cidadão.
José Macêdo, com seu espírito pioneiro e a partir do Nordeste, tornou-se um dos ícones de uma geração empresarial que pensou e se atreveu a construir as bases industriais de um País que, nos primeiros anos do século XXI começa a ocupar lugar de destaque em um mundo que vai se reconfigurando em relações de multipolaridade.