DIÁRIO DO NORDESTE. Quinta- feira, 20 de julho de 2000

Com um toque de sofisticação da nossa característica versatilidade, a cantora e compositora Marta Aurélia apresenta hoje, no anfiteatro do Centro Cultural Dragão do Mar, mais uma face da sua atuação artística. Em um show esperado há alguns meses, Marta apresenta o repertório de “Síntese”, seu primeiro álbum, marcado pela interação entre sua proposta de vida “zen” e por seu dinamismo sobre os palcos da vida.

Cearense, com antenas universais, Marta poderá ser vista em breve, nas telas de cinema, interpretando a protagonista do filme “Milagre em Juazeiro”, do cineasta, também cearense, Wolney Oliveira. Ela faz o papel da beata Maria de Araújo, responsável direta pela santificação popular do cratense Padre Cícero, apesar do total abandono de sua figura, ao longo da história. Seu desempenho foi reconhecido até no festival de Brasília do ano passado, como atriz coadjuvante.

A carreira da atriz, entretanto, é apenas uma das atividades desempenhadas no dia-a-dia dessa múltipla Marta, agora sintetizada pelas graças da música. Não que ela não tenha uma importância fundamental em sua vida. Era o início dos anos 80 quando Marta Aurélia se identificou com uma das propostas do Grupo Teatral Raça, um dos mais atuantes do período da redemocratização política do país. Agora, seu talento cênico também pode ser conferido no palco do Teatro Calango do Açude, na peça “O Braseiro”, de Artur Guedes.

Sem exageros, Marta Aurélia também revela uma boa intimidade com o palco em suas apresentações musicais. Vem sendo assim, pelo menos, nas prévias do show de hoje, que ela fez no final do ano passado, na Praça Mestre Boca Rica, do TJA.

Uma desenvoltura condizente com quem já tem uma estrada na música. Marta começo a cantar no grupo Caípe, no final dos anos 70. Em seguida, veio uma temporada no coral da universidade Federal do Ceará, participando de álbuns de músicos como Acauã, Jô, Franze Rodrigues e Flávio Paiva.

Na UFC, Marta se tornou também jornalista, sendo uma das mais representativas vozes do rádio cearense, e produzindo, atualmente, o programa “Por uma Cultura de Paz”, na Universitária FM. E paz é um tema que tem tudo a ver com o conceito de “Síntese”, um álbum holístico que nos convida a enveredar por vários momentos da evolução dessa artista envolvida consigo e com o mundo.

Produzido com o apoio do também jornalista Flávio Paiva, nos últimos quatro anos, o trabalho faz um tour por ritmos contemporâneos, com a participação de grandes músicos cearenses, como o tecladista Herlon Robson, o percussionista Oto Jr., o guitarrista Gerardo Godim, o baterista Denílson Lopes e baixista Ed Junior.

Há quatro composições de Marta Aurélia e quatro versões, em meio a muito funk, blues, rock, dance e até mantras, que confirmam o teor holístico dessa primeira produção dessa pesquisadora do ser, que captou muito da essência contemporânea no universo poético de suas canções. É o que podemos conferir desde o mantra-dance que abre e intitula o disco, que conta com a participação da musa dance brasileira, a gaúcha Laura Finocchiaro, e ganha versões disco e tecno, ao final.

“Rastro”, de Marta, tem uma letra quântica para um samba quase funk. “Onde Seja” é um blues temperado pelo trumpete de José Cralos Barbosa, com uma letra também ontológica de Lily Alcalay. Outros méritos do disco são as versões para os cearenses Fagner e Kátia Fretitas, “Cavalo Ferro” e “Um Qualquer”. E ainda as de “O Ano Passado que Vem”, de Paulinho Moska, e “Tudo Vale à Pena”, numa versão mais lírica para o clássico dos sambas-funks, de Pedro Luís e Fernanda Abreu.