Observatório da Imprensa, 12/02/2003
Lira Neto
Há poucos dias, um amigo lembrava, em artigo aqui no O Povo, que os sapos, como bons anfíbios que são, quando colocados naturalmente em uma vasilha com água, em temperatura ambiente mas em processo de aquecimento, são incapazes de se dar conta de que estão sendo cozidos até a morte. É que seria de sua natureza acomodar a temperatura que lhes corre nas veias de acordo com o ambiente. Não se mexem, não esperneiam, nem sequer coaxam. Quis o amigo comparar esta síndrome do sapo escaldado com a inércia de todos nós, fortalezenses, diante do crescimento da cidade, cada vez mais às voltas com a especulação imobiliária, o prostiturismo, a antiga “loura desposada do sol” transformando-se em rota do tráfico internacional de drogas, em cenário da violência contra a criança e venda de bebês para o exterior. Preferimos todos vestir abadás e cair na axé music dos Fortais. Ou – cearenses que somos – nos empanturrar de caranguejos regados a cervejota na velha Praia do Futuro. No entanto, no que eu pensava, enquanto lia o artigo do amigo jornalista Flávio Paiva, era sobre a mesma inércia anfíbia na qual outros coleguinhas parecem enfrentar o caldeirão fervente em que andaram nos metendo. Isso aí: nesta terra de sapos, pouco ousamos desafiar a voz corrente que sempre nos sugere ficar de cócoras com eles. Assim, parabéns pelo OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA, velho Dines de guerra. Prova de que nem todos somos anfíbios. E de que temos, na verdade, que exercitar nosso sangue quente.