O canto da diferença
Jornal Diário do Nordeste, Caderno 3, 10/11/2012

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Flávio Paiva: show de lançamento de novo livro em destaque na Bienal
FOTO: MAURÍCIO ALBANO

Flávio Paiva combina música e prosa em novo livro infanto-juvenil, lançado amanhã, na Bienal do Livro

IRACEMA SALES
REPÓRTER

Uma das principais funções da arte é emocionar as pessoas, seja através de sons, imagens, cores e palavras. Os artistas são verdadeiros guias para as viagens ao mundo do faz de conta, no qual as diferenças inexistem e a natureza é respeitada, desde as formas mais simples de vida – como os cupins, “personagens metáforas” humanizado no livro “A casa do meu melhor amigo”, oitavo trabalho infanto-juvenil do escritor e jornalista cearense Flávio Paiva.

O lançamento do livro-CD, que combina música e literatura, acontece amanhã, às 20h, na X Bienal Internacional do Livro no Ceará, no Centro de Eventos (Auditório Félix Guanabarino). Assim como a música dá o tom a cada um dos 10 capítulos do livro-CD, a noite de autógrafos vai contar com show musical dos artistas paulistanos Lucas Espíndola e Rodolfo Rodrigues, além da participação especial da cantora cearense, Bia Drummond.

A dupla paulistana transita pelo pop, o rock e a MPB. Interação de gêneros que fazem parte diretamente da história de “descoberta da amizade entre os diferentes”, explica Flávio Paiva, que lança mão ao simbólico para falar de assuntos que remetem a sua infância, no município de Independência. Sua obra é permeada por lembranças do mundo rural que se contrapõem à sociedade urbana e moderna, ficando evidente no último trabalho também.

Integração

O autor considera importante destacar que a música não figura na obra como coadjuvante, cada música abre um capítulo, compondo o enredo da trama. Das 10 composições, sete são frutos da parceria entre o autor com os compositores Abidoral Jamacaru, Rebeca Matta, Boeing, Rukah, Orlângelo Leal, Anna Torres, Carol Damasceno, Hérlon Robson e Vicky Verônica. Os filhos do escritor, Lucas e Artur, também são coautores da músicas do pai. Sobre as incursões musicais, Flávio é modesto e diz que faz as melodias “de cabeça”. No entanto, recorre aos amigos para ajudar nas composições, esclarecendo que essa não é a primeira vez que recorre à música nas suas histórias, citando o livro “Benedito Bacurau”, que conta com a participação do pernambucano Antônio Nóbrega.

Trama

Com sutileza, o livro trata de dois assuntos que, na opinião do autor, constituem as principais preocupações da sociedade contemporânea: o esgotamento dos recursos naturais não-renováveis da natureza e sobre as novas formas de relacionamento entre as pessoas. O livro conta a história de amizade entre os adolescentes Bento e Rhino, este último, morador de uma colônia de cupins. Bento não esconde a preocupação de que a casa do amigo não seja destruída por dona Nair, funcionária da escola que sabe como eliminar estas “pragas urbanas”.

O autor recorre às metáforas entre humanos e insetos para trazer à tona assuntos pertinentes ao mundo contemporâneo, como por exemplo, relações pessoais, cultura e natureza. São temas pertinentes ao Brasil atual e ao mundo, fazendo referência ao incômodo que ainda causa a algumas pessoas, a ascensão de outras, proporcionadas pelas transformações sociais e econômicas ocorridas no País. As salas de embarque dos aeroportos evidenciam esses estranhamentos. “O Brasil de hoje é diferente do Brasil de 20 anos atrás”, diz Flávio Paiva, chamando a atenção para a dinâmica das relações sociais.

O objetivo é “emocionar” as pessoas, diz o escritor, sem perder de vista o aspecto lúdico, que considera inerente ao ser humano. Acreditando na capacidade de que a arte, no caso a literatura e a música, tem de transformar, Flávio Paiva recorre ao simbólico, para falar de tolerância, em outras palavras, respeito ao diferente. Recorre à metáfora do “menino-cupim”, fazendo alusão ao diferente, trabalhando com esse inseto tão indesejável, sobretudo no meio urbano, mas que conhece um garoto e mostra que a amizade é capaz de superar as diferenças.

Paternidade

O livro constitui o oitavo que Flávio Paiva escreve para o público infanto-juvenil. “Sempre tive uma atenção especial com o lúdico”, reitera o escritor. Ele explica que a principal função da sua escrita é emocionar as pessoas, falando de outros trabalhos, os livros “Rolimã” e “Terra do nunca”, que remetem a esse lado de brincadeira da vida, ganhando a conotação de simbólico para mostrar como as pessoas trabalham a dicotomia do racional e emocional.

Nos últimos 13 anos, essa percepção foi sendo ampliada, sobretudo com a experiência de ser pai de dois filhos, um deles, adolescente, resolveu trazer essa discussão para eles, destacando a importância do processo educacional. A adolescência é uma fase de transição, na qual se “está com um pé em duas canoas”, brinca o escritor, explicando a descoberta da amizade entre duas pessoas diferentes, como mostra a história, não acontece por acaso. Embora, as metáforas literárias que permeiam toda a narrativa conduza o leitor ao universo da fantasia, existe, sim, uma mensagem que autor tenta comunicar, só que de maneira sutil, recorrendo a uma linguagem leve, simples e direta.

E essa comunicação ganha um reforço: a música, que dialoga com os textos. Composto por 10 capítulos, cada um tem uma música que faz parte da história. “Ela dá o tom, o sentimento ao próximo capítulo”, completa. Com relação à história, Flávio Paiva explica que existe um entendimento errado sobre o cupim, afirmando que as discussões vão quebrar alguns preconceitos da sociedade urbana. Na realidade, os cupins não destroem ou comem madeiras vivas, portanto esses insetos não aparecem em árvores sem galho morto. Daí, a metáfora da amizade entre os meninos, um deles, mora numa colônia de cupins, tentar mostrar a relação entre cultura e natureza. O menino-cupim é também o outro, o diferente, realidade apresentada quando um vai na casa do outro, revela o autor: “São realidades diferentes”.

Mais informações:

X Bienal Internacional do Livro do Ceará. Até 18 de novembro de 2012, no Centro de Eventos do Ceará (Av Washington Soares, 1141). Horário de visitação: das 9 horas às 22 horas. Entrada gratuita. Programação completa em http://www.bienaldolivro.ce.gov.br/

Fonte: Diário do Nordeste