O Povo – Vida & Arte, Fortaleza, 22/01/2005

por Inês Vitorino* (Especial para O POVO)

RESENHA ] Um livro que contraria a tendência do consumismo e ensina às crianças valores como amizade, tolerância e diversidade, unindo música e literatura. Assim é Flor de Maravilha, de Flávio Paiva, que tem lançamento hoje no Festival Vida & Arte.

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* Matéria também publicada na
RIVISTA do Mino Nº 45 – Março de 2005

Uma viagem sensível e penetrante ao mundo da infância é o que nos traz o escritor, compositor e jornalista Flávio Paiva, nesta sua maravilha de livro. Um convite à fantasia, ao encantamento, através de uma composição primorosa de textos, sons e cores, que, em profusão, envolvem o leitor/ouvinte em travessias fantásticas por tempos e espaços, realidades próximas e distantes, mundos da vida e do sonho.

Em um cenário no qual a vasta produção cultural para a criança prefere valorizar sonhos de povos estrangeiros, repletos de reis e rainhas, sempre brancos e belos, em castelos encantados, ricos em ouro e diamante, o livro Flor de Maravilha se diferencia ao revelar o mundo da vida e do sonho da nossa gente, nossas matas e nossos bichos.

Distante do apelo publicitário das grandes corporações, que visualiza a criança sobretudo na condição de consumidora, levando-a a buscar sua satisfação no mundo do consumo, aqui a criança é valorizada como ser humano, estimulada em sua inteligência e sensibilidade, chamada a descobrir o sentido de expressões como a amizade, a tolerância, a diversidade, entre outras.

Neste mundo, a criança descobre que “nem sempre para brincar é preciso ter brinquedo” e que a felicidade pode ser encontrada num barquinho de papel a flutuar nas águas que descem das bocas de jacaré em dias de chuva ou no prazer de contar com amigos nas brincadeiras de roda ou amarelinha. Afinal, “é mais alegre a alegria quando tem muitos brincantes”. É esta felicidade genuína que se pode sentir ao ouvir a algazarra da meninada, o barulho do rói-rói, o canto da passarada do sertão ou os sons do xote, da valsinha, do rap funkeado presentes no CD que acompanha o livro.

Nas histórias encantadas, que valorizam a noção de pertencimento, há lugar para uma infinidade de bichos: o sabiá, o rouxinol, o preá, o marreco, o papagaio, o tucano, até mesmo o piolho, por que não? Descortina-se uma enorme variedade de mundos, onde a criança pode encontrar seres tão diversos como os habitantes do coco-verde, a bolha teimosa, o turista fujão, o tocador de pratos e os maravilhosos personagens da nossa cultura popular, tais como o Curupira e o Boitatá. Assim, no terreno do lúdico, as crianças são levadas a fazer contato com uma realidade apaixonante, encantadora que, constitutiva do nosso imaginário coletivo, é por elas, muitas vezes, desconhecida. Nós, leitores, grandes ou pequenos, só podemos agradecer ao escritor, compositores e ilustradores por esse belíssimo trabalho de celebração da vida!

*Inês Vitorino é professora do Curso de Comunicação Social da UFC e autora do livro Televisão, Publicidade e Infância (Ed. Anablume)