Jornal O POVO – Vida & Arte, 13/05/1998

 
Janaina de Paula (da Editoria do Vida & Arte)

Um malabarista equilibrando pratos em movimento na ponta da vareta. Caricaturando, é mais ou menos assim que o jornalista e compositor Flávio Paiva vê a atuação de Cláudio Pereira à frente da Fundação Cultural ao longo desses anos. “Fatalmente uma hora esses pratos desabariam”, salienta Flávio, que aposta na mudança como uma luz que se abre em torno da ausência de uma política cultural da Prefeitura.

Tai o “x” da questão que fez com que a administração da Fundação Cultural fosse à bancarrota: a falta de uma política cultural consolidada pela Prefeitura que vem tratando a área como algo supérfluo e secundário. Pelo menos é a opinião de boa parte dos artistas, cineastas e músicos ouvidos pelo Vida & Arte a respeito. O jornalista, diretor e dramaturgo, Oswald Barroso, vai mais longe. Ele acredita que Cláudio Pereira foi vítima da própria timidez em sua política cultural. “na gestão da Maria Luiza, ele costumava destacar que devolvia dinheiro para áreas que julgava mais importantes, como educação e saúde. Essa visão acanhada fez com que a prefeitura tratasse cultura como uma coisa secundária”, diz Oswald.

Já o artista plástico Sérvulo Esmeraldo acredita que se os tais pratos despencaram foi por conta do cansaço do malabarista. “É inegável a competência e dedicação do Cláudio Pereira, mas é muito perigoso a pessoa se eternizar à frente da Fundação, como do Museu da Universidade Federal do Ceará, dos teatros, etc. Acaba se acomodando”, avalia Sérvulo. O artista também responsabiliza a Prefeitura de Fortaleza pela saída de Cláudio Pereira: “Pelo jeito a Fundação não tinha força. O Cláudio é uma pessoa muito dinâmica e se não fazia é porque faltava apoio da Prefeitura”.

O cineasta Nirton Venâncio também sai em defesa de Cláudio Pereira: “Fiquei triste e surpreso porque o Cláudio é uma pessoa muito batalhadora e saiu porque não conseguiu segurar as pontas”, lamenta. Se segurar as pontas significa fazer cultura sem gastar um tostão, os prognósticos são desanimadores. “O Guaracy Rodrigues (novo Presidente da Fundação), da mesma forma que o Cláudio Pereira, é uma pessoa competente mas sem decisão da Prefeitura de investir na área não tem como fazer milagre. É necessário que haja uma mudança de postura da Prefeitura em relação à política cultural, senão fica tudo na mesma”, diz Flávio Paiva. Oswald é ainda mais incisivo: a Fundação sempre foi gerenciada seguindo a política do varejo. Dois tostões pra uns, dois pra outros e nada de uma política consolidada. Hoje não tem patrimônio, a não ser sua sede”.