O Povo, Política, 19/11/2000

O olhar sobre a nossa gente, o nosso estado e as nossas cidades, pelo menos quando procuramos localizar as ações dos nossos gestores públicos e das nossas representações institucionais, nem sempre são as mais gratificantes. Mas há uma grandeza nossa toda especial, um jeito particular de decifrar o mundo e buscar para o nosso cotidiano a estética delicada das nossas bordadeiras, linhas e rendas.

No final do século XIX, de certa forma antecipando o que aconteceria em 1922 com o movimento modernista brasileiro, surgiu no Ceará a famosa Padaria Espiritual, há nove anos, praticamente na última década do século XX, foi criado no Ceará o Pacto de Cooperação. São inspirações distintas, é verdade. O século XIX tinha um apreço todo especial pela estética literária. Valores que começam a se fragilizar no mundo ocidental como um todo, e no Brasil de uma maneira bem particular, depois da Segunda Guerra Mundial. Neste final de século, buscamos uma forma mais adequada de gerir o mundo, a produção e distribuição de bens materiais e simbólicas. Tornar compatíveis emprego, renda, bens, lazer, felicidade e natureza. Daí a idéia do Pacto de Cooperação, que certamente não teve uma matriz ideológica para reger e orientar o seu surgimento. Mas antes uma bela e deliciosa intuição. Essa intuição bem particular que brota da nossa urgência e necessidade.

“O povo cearense sempre apresenta iniciativas interessantes e soluções inovadoras para questões desafiantes. O Pacto de Cooperação do Ceará é uma delas. Pelo que explicam, no presente livro, seus autores, num mundo onde a palavra de ordem é COMPETIÇÃO, o PACTO vai na contra mão e propõe vivenciar a COOPERAÇÃO. Numa sociedade como a brasileira, marcada por profundas desigualdades sociais, o PACTO busca aproximar pessoas. E ao invés de aprofundar divergências, tenta criar espaços para que cidadão de diversas visões de mundo e com inserção distinta na vida social possam descobrir as possibilidades de construir CONVERGÊNCIAS”, disse Tânia Bacelar, economista com doutorado em Políticas Públicas pela Universidade de Paris, ao apresentar o livro “OS 5 ELEMENTOS – A essência da Gestão Compartilhada no Pacto de Cooperação do Ceará”, do jornalista Flávio Paiva e do consultor João de Paula Monteiro, que será lançada amanhã no Hotel Plaza Praia Suítes. O livro não conta a história do Pacto, mas sistematiza essa rica e preciosa experiência genuinamente cearense.