Na busca por sistematizar pontos culturais da Capital, Projeto Museu Orgânico é lançado hoje (11)
por Diego Barbosa – Repórter
A ideia da cidade como um museu aberto não é nova. Desenvolvido ao longo das décadas de 1960 e 1970, o conceito é resultado de um esforço coletivo de curadores e artistas de todo o mundo, empenhados em fazer com que a arte seja compreendida através de um desejo de emancipação em relação ao poder dominante e aos valores estabelecidos.
Fazer dos espaços urbanos território de expressões artísticas é um dos princípios que consolidam a proposta. Não sem motivo, o próprio vocábulo, “aberto”, remete à noção de alargamento, ultrapassagem de limites, conectando-se a fundamentos práticos que vão ao encontro do diálogo e da vivência-comum. Em síntese: ajuntar sentidos fragmentados para fazê-los parte importante e conhecida de um todo.
A mais nova iniciativa da Prefeitura de Fortaleza atua no núcleo dessa definição. Trata-se do Projeto Museu Orgânico, trabalho que pretende sistematizar o roteiro de espaços culturais da Capital por meio do reconhecimento de agentes e promotores de atividades considerados fomentadores da arte e suas manifestações.
Contemplando a linguagem Música nessa primeira fase – pretende-se ainda abranger Literatura, Dança, Fotografia, Teatro, Humor, entre outras -, o lançamento oficial da ação acontece hoje (11), às 18h, no Cantinho do Frango.
O espaço foi o primeiro dos muitos que virão a integrar uma espécie de galeria do Museu, levando em conta que os bares da cidade têm se mostrado lugares não apenas de convivência e diversão, mas de destacadas produções artísticas, culturais e intelectuais.
Todos receberão um painel de 3m x 1,5m da Prefeitura em que estarão dispostos 50 retratos de músicos, compositores e intérpretes locais considerados ícones de Fortaleza, tendo em vista o legado que ajudaram a construir.
Apresentações
Nesta quarta o cantor Rodger Rogério fará um show entoando algumas de suas principais canções. O intérprete foi escolhido pelo dono do estabelecimento, Caio Napoleão, obedecendo a um formato que deve se repetir para todos os lugares que também sediarão a iniciativa. Com isso, além do painel maior, os espaços ganharão também um quadro específico da personalidade escolhida, contendo um pequeno texto assinado pelo proprietário ou gestor justificando o motivo da escolha.
À frente da curadoria – imbuída da seleção tanto dos nomes que integrarão o painel quanto dos lugares que receberão a tela – estão o jornalista Moacir Maia, o arquiteto Totonho Laprovitera, o escritor e produtor cultural Jorge Pieiro e o jornalista e escritor Flávio Paiva, autor do livro-CD “Bulbrax – Sociomorfologia Cultural de Fortaleza”, que lançou as bases conceituais para o início da iniciativa. Cada um representa diferentes segmentos ligados ao projeto, contemplando vieses relacionados à cultura, ao turismo e à pluralidade de expressões artísticas de Fortaleza.
DNA
Segundo Moacir Maia, a ideia vem sendo trabalhada desde o ano passado, ganhando contornos maiores à medida que os curadores se debruçavam sobre a proposta. “Chegamos ao conceito identificando pontos na cidade que geram vida, levando bastante a sério o termo ‘orgânico’”, explica ele.
“Fortaleza tem muitos espaços que são agentes ativos de cultura, cabendo ao poder público e à sociedade como um todo a identificação e o estímulo a esses espaços para que componham um mapa cultural da Capital”, completa.
Levando em conta essas percepções, democratizar o acesso e a produção artística e impulsionar a conservação da memória são fatores relevantes a considerar dentre as intenções do projeto, além do desejo de conexão. “Não queremos apenas que a Prefeitura promova isso, mas todos juntos, fazendo com que a cidade dialogue”, frisa Maia.
De acordo com ele, os próprios donos de estabelecimentos (bares, restaurantes, barracas de praia, terminais de transporte, centros educacionais, dentre outros), ou mesmo pessoas que percebam a adequação de determinado lugar da cidade à proposta, podem fazer sugestões por meio dos canais de comunicação da Prefeitura para que o ambiente possa receber o painel com os retratos dos artistas da cidade, conforme cada linguagem cultural trabalhada. As inscrições abrirão em breve.
Com isso, não só uma diversidade de ambientes comporá a galeria viva do Museu Orgânico como passarão a integrar o roteiro turístico-cultural de Fortaleza, recebendo o selo de Bar-Galeria. O feito deve promover aproximações por campos de sentido – termo desenvolvido por Flávio Paiva -, fator importante tanto para quem visita a cidade quanto para quem nela vive. “O projeto, assim, tende a ser quase um exame de DNA que identifica a robustez da cultura da Capital”, afirma Moacir.
As sugestões, porém, devem acontecer após o lançamento do projeto. Até lá, os bares-galerias da iniciativa serão identificados e convidados por uma equipe da Prefeitura, seguindo o critério de distribuição espacial do território da Capital, contemplando as sete Regionais.
Além do Cantinho do Frango, dentre os já selecionados – compondo, por enquanto, o mínimo de cinco painéis do segmento Música – estão Flórida Bar, Café Couture, Bar do Mincharia e Point Lauro Maia – Bar do Vaval.
Evoluções
Para o futuro, pretende-se também possibilitar a colocação de estátuas em áreas públicas com personagens dos painéis. As esculturas servirão de totens, com QR Codes embutidos, por meio dos quais estarão disponíveis informações sobre aquele artista – biografia, trabalhos realizados e espaços na cidade a ele relacionados. “O importante é que, com a execução de cada ação, a cidade se perceba. E note que, dentro desse espaço enorme de diversidade representado pela urbe, dá para fazer pontes que estão muito além do conceito de territorialidade”, atesta Flávio Paiva.
Mais informações:
Inauguração do Projeto Museu Orgânico de Fortaleza. Hoje (11), às 18h, no Cantinho do Frango (R. Torres Câmara, 71, Aldeota). Contato: (85) 3224.6112