Revista Fale!
FALE! – O relato de Flávio Paiva não tem a pretensão do distanciamento. Pelo contrário, ele é autor e personagem da história que narra, com participação destacada em diversos movimentos retratados (…)
Flávio Paiva – A mobilização tornou-se um imperativo da sociedade brasileira (…) O meu foco começa no Ceará (…) Um recuo a 1799, quando o Ceará se torna definitivamente independente de qualquer capitania (…) Esse livro começa abordando a quantidade de conquistas da nossa sociedade civil (…) Em apenas 200 anos já produzimos ações de cidadania que foram importantes para a fundação do Brasil, como a movimentação do Dragão do Mar, no período da Abolição, e a conquista do Acre que, sem a participação dos cearenses, seria um território norte-americano dentro da América do Sul.
FALE! – Isso tem um impacto na auto-estima do cearense?
Flávio Paiva – Total. São exemplos tirados da formação política no Ceará, tanto na parte de personalidades quanto de movimentos, mostrando que não estamos inventando nada. Já existe uma coisa no nosso espírito que produz essas mobilizações (…) Num determinado momento faço um paralelo entre a chamada Era Tasso e os 16 anos da Era Acioly (…) para mostrar o quanto avançamos. Para derrubar os Acioly, as pessoas morreram, foram para a rua, brigaram. Foi no tiro, na faca (…) Esses 90 anos que separam a oligarquia Acioly da oligarquia Tasso mostram uma evolução da nossa forma de comportamento cidadão espetacular. Já não precisamos mais sair às ruas derrubando tudo, matando a pau, para demonstrar que não estamos concordando com o modelo. E existe até uma coisa cabalística: o Acioly assumiu em 1896 e foi derrubado em 1912. O Tasso entrou em 1986 e deixou o governo em 2002.
FALE! – Como você conduz a análise, já que se trata de um ensaio crítico, em que o autor interfere muito?
Flávio Paiva – É um trabalho com uma visão autoral, mas que também busca nos artigos, na imprensa, pessoas para ajudarem a contar. Tem desde o governador até as pessoas que fizeram oposição ao governo. Então, não estou contando essa história sozinho, Faço contrapontos, diálogos, um grande sarau.
FALE! – O capítulo “A vitória política do zero a zero” traduz a idéia do crescimento dos partidos de esquerda, claro, dentro do efeito Lula. A vitória do Lúcio Alcântara foi contada no voto a voto.
Flávio Paiva – Faço a comparação com uma vitória por pênaltis ou na prorrogação em um jogo de futebol. Foi a aleatoriedade total. Aconteceu dentro de um caos. Poderia ser um, poderia ser o outro. No futebol seria a chamada morte súbita. Pode ter sido até gol contra.