Diário do Nordeste, 31/10/2007

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O Dia do Saci deve ser o dia da liberdade total da infância, o dia em que ninguém manda nas crianças, principalmente os comerciais traiçoeiros da Mente Rosa”. Foi o duende Mais-Novo-e-Sonhador que disse. A Mente Rosa, pra quem ainda não conhece, é “formada por indivíduos gananciosos, capazes de destruir a natureza e de violentar a vida das pessoas simplesmente para ter o controle do mundo. É um monstro pink-sujo que está atacando adultos e crianças de todo o planeta”, explicaram os duendes e gnomos perdidos que já tinham entrado na história. 

De forma bem particular, as forças do bem e do mal se enfrentam no livro-CD “A Festa do Saci”, do escritor e jornalista Flávio Paiva, e que traz ilustrações de Glair Arruda (reproduzidas aqui nesta página). O livro-CD será lançado hoje, às 19h50, no Auditório do Dragão do Mar. 

O livro faz parte de outras ações que dão início, no Ceará, às discussões sobre o Dia do Saci. As atividades começam pela manhã de hoje, na Biblioteca Pública Menezes Pimentel. À noite migram para o Auditório do Centro Dragão do Mar. Inicialmente, às 19h, será exibido o documentário “Somos Todos Sacys”, de Sylvio Rocha e Rudá K. de Andrade. Logo em seguida, o lançamento do livro-CD de Flávio. Das 20h às 20h10, a exibição de spots produzidos pelos alunos da Unifor. Para fechar a noite, uma mesa redonda será montada com o Secretário de Cultura do Estado, Auto Filho, Flávio Paiva, o repórter do Diário do Nordeste, Antônio Vicelmo (leia artigo, na página 4, sobre figuras míticas), o autor do Projeto de Lei instituindo o Dia do Saci no calendário oficial de Fortaleza, Guilherme Sampaio, e Fátima Limaverde, diretora da Escola da Vila. 

Flávio explica que o livro nasceu de forma inesperada. Ele acompanhava, desde 2004, as atividades da Sociedade dos Observadores de Saci (que se condensa no sugestivo Sosaci) e decidiu contribuir na luta pela valorização dos mitos brasileiros, em que põe o Dia do Saci como uma tática nesse sentido. “Quando você cria o Dia, você não vai interferir no que o mito é. O Dia é para criar condições objetivas das pessoas experienciarem o mito”, explica ele em entrevista ao Caderno 3. “E que não vai acontecer só nesse dia. A partir do momento que as pessoas começam a se relacionar com o mito de uma forma menos comercial e mais motivada pelos aspectos da cultura de cada um facilita que as escolas, por exemplo, criem atividades que aproximem os sacis das pessoas”, continua. 

“A Festa do Saci” é mais um passo na tentativa de fazer do zombeteiro um personagem presente na vida das pessoas. “Negar uma criação tão fabulosa e que existe em todos os lugares do país é negar a nossa capacidade imaginativa. Esse é um dos motivos que me move nessa discussão. O mundo tá precisando de mais imaginação, de mais proximidade do ser humano individualista, consumista, com o outro, com a preservação do meio ambienta. Daí a importância dos seres míticos nessa ‘regeneração’, vamos dizer assim”. 
Flávio conta que ter o Dia do Saci é muito bom por vários motivos. Um deles é tirar “o Saci da garrafa do folclore. O folclore é muito legal, não tenho nada contra. Mas de certa forma ele aprisionou os mitos do cotidiano. Você apenas estuda o Saci e outros mitos, mas não os vivencia. O que o meu livro propõe é experienciar uma resignificação do Saci”. 

Assim, o livro-CD começa quando um rapaz – ele próprio, Flávio, que garante ser verdadeira a história – ganha, em tempos de downloads, uma máquina de escrever. A tia oitentona que deu o presente não explica muito bem a razão dele. Mas o narrador não demora muito para descobrir. Ele será responsável por ajudar uma série de figuras mitológicas a encontrar, no Brasil, o ser mais irreverente da cultura, e juntos combaterem a Mente Rosa.

Serviço : 
Dia do Saci em Fortaleza. Ações culturais para a legitimação do dia. Hoje, pela manhã e à tarde na Biblioteca Pública Menezes Pimentel. A partir das 19h, no Auditório do Dragão do Mar, exibição do filme ´Somos Todos Sacys´, lançamento do livro-CD ´A festa do Saci´ e mesa-redonda que põe em foco a discussão. Entrada gratuita. Mais informações: (85) 3254-3390