O POVO. Sexta-feira, 19 de novembro de 1999

Marta Aurélia lança seu CD de estréia, “Síntese”, com show hoje no projeto Seis e Meia Luminar, no anexo do Theatro José de Alencar.

Luciano Almeida Filho 
Da editora do Vida & Arte

Síntese, o título do CD de estréia parece sintomático para Marta Aurélia, uma multi-mulher das artes e comunicações. Cantora, locutora, jornalista e atriz de teatro, vídeo e cinema, ela protagoniza a Beata Maria de Araújo no filem Milagre em Juazeiro de Wolney Oliveira. Mas é cantando que ela reúne todos os talentos numa expressão de multiplicidade. O disco revela uma cantora pop mas que quer dizer alguma coisa para as pessoas. Nada do pop tatibitati só pra galera dar uns pulinhos e esquecer no dia seguinte.

Marta Aurélia busca o equilíbrio de seu lado intérprete – mais conhecido – e surpreende como autora resolvida e equilibrada. “Rastro” e “Íntima” são duas das quatro composições que levam sua assinatura no CD. As duas melhores. “Rastro” tem um suingue suave e cativante uma melodia que agrada em cheio e dá vontade de sair assoviando. “Íntima” revela a coragem de expor seus segredos, qualidade rara e preciosa entre os autores. “Harbans” é reverente demais e “Sincronicidade” poderia ser melhor se a introdução não fosse chupada de “The Sweetess Taboo” de Sade Adu.

Essa duas últimas deixam explícito do lado espiritual da cantora, que apresenta e produz o programa Por uma cultura da paz, na Rádio Universitária. “Síntese” (Flávio Paiva/Rogério Soares/Geo Benjamim), a música, traz os elementos orientais com arranjo que inclui até uma introdução em drum’n’bass e ganhou dois remixes para as pistas usando a linha do baixo de Bootsy Collins no hit “Groove is in the heart” (DeeeLite). Marta Aurélia manda ver legal mesmo no clima jazzístico de “Onde seja” (Lily Alcaly) com ótimo trumpete.

Pela boa mostra, ela bem poderia ter sido mais ousada e evitado o excesso de regravações. “Um qualquer”, sucesso de Kátia Freitas, por exemplo, se enquadra bem no espírito pop do disco mas o novo arranjo pouco acrescenta ao original. “Cavalo ferro” reverencia a turma do pessoal do Ceará mas também deixa a desejar. “Tudo vale a pena” já teve gravações melhores dos autores: Fernanda Abreu e Pedro Luís, com sua Parede. Mas a de Marta não compromete. Ela se dá melhor em “O ano passado que vem”, de Paulinho Moska.

Marta Aurélia faz o lançamento do CD Síntese com show hoje dentro do projeto Seis e Meia Lumpar, no palco da Praça Mestre Boca Rica, anexo do TJA (entrada pela 24 de Maio). O mesmo palco já a ouviu interpretando Cazuza, Fernanda Abreu e Paulinho Moska nos tempos que o projeto se chamava BEC Seis e Meia. Desta vez, ela vai reforçar seu lado autoral mostrando músicas do CD com acompanhamento dos músicos Hérlon Robson (teclados), Gerardo Gondim (guitarra), Edmundo Junior (baixo) e Denílson Lopes (bateria), que também tocaram nas gravações do disco. Aliás, Hérlon, Gerardo e Edmundo foram os arranjadores do Síntese.