O POVO. Quinta-feira, 20 de julho de 2000
A múltipla Marta Aurélia lança seu primeiro CD, hoje, no Centro Dragão do Mar. Sítese faz jus ao nome. A cantora, jornalista e atriz pesquisou, garimpou repertório, compôs pela primeira vez. O trabalho traz participações preciosas, como da gaúcha Laura Finocchiaro.
Janaina de Paula
Da editora do Vida & Arte
O celular toca impertinente. Bastidores do show: Em parte. É Braseiro, espetáculo de Artur Guedes, em cartaz pondo lenha na fragilidade dos valores humanos. Milagre em Juazeiro, filme de Wolney Oliveira, que corre o Brasil levando a beata, Padre Cícero e mitos da religiosidade. É ainda o lançamento de Síntese, no Centro Dragão do Mar, que chega fazendo jus ao nome. Última versão da multifacetada Marta Aurélia.
Ela é personagem da família sertaneja em Braseiro; encarnou a beata Maria de Araújo, no longa de Wolney; toca o programa Por uma Cultura de Paz, na Universitária FM; lança o primeiro disco. O registro fonográfico veio congregar. “Cansei de ouvir: ‘se decida, ou você é cantora ou atriz’. Me livrei dessa angústia quando entendi que tudo vem de uma única fonte”, argumenta. Inquietante constatação. Síntese é conceitual. Era hora de traduzir alguma coisa em música. Vieram as pesquisas, consultas aos amigos, horas intermináveis garimpando repertório. “Como as coisas não se encaixavam, resolvi compor – apesar de não me considerar compositora – para me fazer entender”, ousa.
“Rastro”, “Íntima”, “Harbans” e “Sincronicidade” deram o tom da tríade principal do disco: dançante, intimista, uma coisa misturada a outra. Puxou repertório. Há composições de Flávio Paiva, um colaborador de bastidores que contribuiu inclusive com a faixa – título – uma parceria com Rogério Soares e Geo Benjamim. Flávio fez a ponte com Laura Finocchiaro. A gaúcha que é bem dance temperou o disco com uma participação etérea – um mantra na música “Íntima”. Karine Alexandrino emprestou humor à música “Um Qualquer”, de Kátia Freitas. Tem Paulinho Moska falando de tempo e a dobradinha bem sucedida de Pedro Luís e Fernanda Abreu, com “Tudo Vale a Pena”. A Chama Cearense (Lúcia Menezes, Maira, Ana Fonteles, Cristina Francescutti, Lily Alcalay, Késia e Christiane Gomtos) participa por tabela. Da temporada em homenagem à música cearense, Marta Aurélia retirou “Cavalo Ferro”, de Ricardo Bezerra e Fagner.
O trabalho contou com a diversidade de três arranjadores. Edmundo Jr., parceiro antigo, foi responsável por inúmeras experimentações em estúdio. Herlon Robson imprimiu uma marca mais dance, eletrônica, com a colaboração do DJ Silvio de Paula. Gerado Gondim é o mais cerebral dos três. O show no Dragão vai além. Marta Aurélia inclui alguma coisa do novo trabalho de Mona Gadelha. Canta um Lobão independente. Afinidades com o difícil mercado fonográfico. Síntese saiu no final de 1999, com o apoio da Lei Jereissati. Até agora não tem distribuição definida. “Já assumi esse papel. Outro dia fui na Empire Records oferecer o disco. ‘Escutem e se interessar me telefonem’. Meia hora depois, o cara ligou: ‘Dá pra trazer alguns discos dessa cantora?’ Não tinham associado a imagem do disco a mim”, ri-se Marta Aurélia. Pois quem quiser conferir que não perca a apresentação de logo mais. O show é para aguçar na direção da boa música cearense.