Dirigir por diferentes lugares do mundo, muitas vezes sem sequer ter feito reservas em hotéis, sempre foi a minha forma preferida de viagem. Ela permite seguir por estradas atraentes que surgem durante o percurso, contemplar paisagens e povoados pelo tempo que quiser, sentar em bancos de praças, observar passeantes, provar da arte e da culinária local, escolher onde se hospedar e ficar os dias que deem vontade.
No tempo de pandemia que atravessamos não dá para pensar nesse tipo de aventura, mas mesmo assim acabo de passar por uma experiência que me deu essa agradável sensação especial de zanzar pelo mundo. Tudo começou quando o meu filho Artur me convidou para viajar de carona com ele em um jogo de mapas, o GeoGuessr, que, em tradução livre, quer dizer ‘chute geográfico’, cujo objetivo é a descoberta de onde estamos no ponto do planeta Terra em que o programa nos lança aleatoriamente.
O aplicativo coloca o viajante em um lugar qualquer do mundo, que tenha sido filmado pelo Google Street View. Ao lado do vídeo aparece um mapa no qual devemos marcar onde estamos. Trata-se de um exercício de senso de localização com base em imagens panorâmicas, mas que permitem zoom.
Optamos pela versão mais simples, gratuita, que é bem mais relaxada quanto a aspectos competitivos. Nossa intenção foi curtir a exploração em si, através de referências da vegetação, da arquitetura, do idioma exposto nas placas de rua e de estrada, enfim, fazer o deslocamento por dentro das paisagens e dos centros urbanos oferecidos por esse excelente game criado anos atrás pelo programador sueco Anton Wallén.
Na primeira rodada deparamos com muitas poças d’água em uma estrada que tinha ao fundo elevações montanhosas. Tomamos o rumo de uns conjuntos habitacionais e identificamos uma placa com termos que pensamos que fossem em holandês. Mais à frente, apareceu outra placa em inglês. Nela, aparecia a palavra Wepener. Poderia ser o nome do lugar ou simplesmente algo como bem-vindo. Imaginamos estar no Suriname, perto da fronteira com a Guiana. Fustigamos a região e nada de Wepener.
Em certo momento das nossas andanças demos com uma placa de boas-vindas à África do Sul, que também informava que estávamos diante da estação policial de Wepener. Deduzimos, então, que a placa que pensávamos ser em holandês era na verdade em africâner. Saltamos imediatamente da busca no continente sul-americano e fomos esquadrinhar o sul-africano. A expressão de boas-vindas nos levou a pensar em área de fronteira. E foi exatamente na fronteira com o reino do Lesoto que nos encontramos. Marcamos o ponto no mapa e deu uma distância de cem metros.
Recebemos um novo desafio. Era uma pequena rua de uma cidade ensolarada. Pela arquitetura, deduzimos tratar-se de uma grande cidade mediterrânea, e saímos em busca do mar. As placas em hebraico e a zona turística do porto de Jaffa confirmaram que estávamos em Tel Aviv. Fizemos o percurso inverso, marcamos o mapa e estávamos a um metro do ponto correto.
A terceira rodada foi fácil e difícil ao mesmo tempo. Fácil porque logo de cara percebemos que a paisagem era nordestina, e difícil porque caímos no meio de uma rodovia desértica. Fomos para um lado e para o outro até passarmos em frente a uma cerâmica onde estava escrito ‘Caém-BA’. Dirigimo-nos até a cidade, mas, como o ponto de partida estava na própria BA-131, marcamos o mapa em um lugar distante dois quilômetros do local preciso. Foi divertido.