América Viva é uma publicação informal que pretende pensar a unidade latino-americana, não como uma reserva colonial, mas como um conjunto de povos independentes e fortes político-economicamente, a partir da sua valorização cultural.
Número 1
Janeiro, 1992
Fortaleza-Ce, Brasil.
TRECHOS
Um Disco no Debate dos 500 Anos
Matéria da capa
“Para contribuir com o estímulo ao auto-respeito e à integração latino-americana neste momento em que a cultura mestiça do continente mais precisa de unidade, a cantora cearense OLGA RIBEIRO (foto), 25 anos, prepara o elepê América, no qual faz uma leitura musical contemporânea de sentimentos que inquietam a vocação libertária da América Latina e, por isso mesmo, necessitam estar nesse debate.” (…)
O ano da América
Flávio Paiva
“Dentre as muitas manifestações que marcarão o ano de 92, o quinto centenário da chegada de Colombo à América certamente será uma das mais polêmicas e importantes para a construção da verdade histórica latino-americana.
(…)
A América Latina é a sua reserva de calor humano e fertilidade política. É o mundo das misturas, da criatividade e que ainda está por construir, por sedimentar a sua identidade morena, longe dos preconceitos, das desigualdades e deturpações de modernidade fomentados pelos que se nutrem da indústria da submissão, da guerrilha, da droga, do medo e da desinformação”.
Peru não faz festa para o 5º centenário da América
Daniela Rocha (enviada especial ao Peru)
“Para os peruanos, o “descobrimento” e a vinda dos espanhóis provocaram a extinção das riquezas de sua terra e a destruição da cultura dos índios locais – ou melhor, dos povos andinos, já que os peruanos não aceitam mais a designação de índios”.
Pagamento da dívida externa
Lauro de Oliveira Lima
” Todos os monumentos erguidos, na Europa, a partir do fim da Idade Média, foram financiados com as riquezas da América Latina. Foi o ouro do Brasil e a prata do Peru que fizeram o “capitalismo moderno” e provocaram a revolução industrial.
(…)
E os banqueiros continuam a sugar o sangue da América Latina. Insaciáveis. Já pagamos mil vezes estas dívidas”
A Fonte da Cultura Colonial
Flávio Paiva
“Passados já cinco séculos da chegada de Colombo à terra que os europeus imaginavam ser um Novo Mundo, uma interrogação permanece a flutuar sobre as cabeças dos que teimam em matar a charada do enigma colonial. Trata-se da dúvida sobre qual teria sido realmente a fonte social, política ou econômica que produziu esse sentimento de dominação compactuada que continua fazendo do Terceiro Mundo uma conseqüência do Primeiro”.
Número 2
Março, 1992
Fortaleza-Ce, Brasil.
TRECHOS
Olga Ribeiro conclui gravações do elepê América
Matéria da capa
“O américa é uma espécie de “disco dos abraços” através do qual, como bem defende Galeano, pode-se chamar a atenção de pontos fundamentais à construção da unidade do olhar latino-americano, constantemente fragmentada por um sistema de estrabismo cultural”.
El “encontrón” de dos culturas
Mempo Giardinelli – Argentina
(…) “Quiza por eso algunas buenas almas propusieron – hace unos años – hablar de “Encuentro de dos Culturas”. Lo que no deja de ser una frase indulgente e inexata, porque la gesta de Colón y quienes lo siguieron fue un atropello liso y llano, que se hizo sanguinariamente y no careció de situaciones disparatadas, casi literarias. Y es que la verdadera historia del ‘descubrimiento’, la realidad-real, fue en cierto modo una tragicomedia.” (…)
Sessão “RECORTES”
Jornal do Brasil – 01/02/92
Clarissa Rossi
Na íntegra
Madri – Os humoristas perderam o bom humor. Pelo menos durante uma mesa-redonda sobre O humorismo gráfico na América Latina, realizada quinta-feira, como parte das comemorações do V Centenário do Descobrimento da América. Participaram de uma exaltada discussão o cartunista brasileiro Ziraldo e o espanhol José Luis Coll e alguns espectadores – dois dos quais se retiraram irritados, batendo a porta. Outros pesos-pesados das tiras humorísticas, como os argentinos Quino e Mordillo, estiveram presentes, embora tenham permanecido alheios ao bate-boca.
Ziraldo estava à toda, apresentando-se como originário “da América Latina, um continente ocupado.” E deslanchou, entre murmúrios da platéia, em bom portunhol: “Somos de um continente onde havia civilização até que os espanhóis chegaram e fizeram o favor de acabar com ela. Vocês não sabem o que é viver num continente ocupado. A Ásia é dos asiáticos, mas os argentinos pensam que são ingleses e os chilenos, que são alemães”.
Jornal do Brasil – 04/03/92
Marcia Cezimbra
Índios não comemoram os 500 anos da chegada do europeu à América
(…) “Antes do estouro do champagne na Espanha, o descobridor Cristóvão Colombo, herói oficial, levará uma flechada do índio brasileiro Macsuara, da tribo Cadiwéu, de Mato Grosso do Sul. Ele foi o protagonista do filme Avaeté, de Zelito Viana, e é um dos representantes dos povos das florestas tupiniquins. ‘Ninguém descobriu a América’, dispara. ‘Nós já estávamos aqui e nada temos para comemorar além de cinco séculos de resistência’, diz.” (…)
La Semana – 12/01/92
Navegue con Colón
(…) “Con una nave y una tripulación semejantes a las de la mítica carabela Santa María, los españoles ya pueden acompañar, en un video juego, a Cristóbal Colón y a los syos en su histórico viaje de hace medio milenio a ‘las Indias’.” (…)